O homem sem qualidades
Nasci no Estado Novo. A República era então uma caricatura do regime fundado em 1910. Os seus valores com destaque para a liberdade foram submergidos pelo chamado interesse da nação, enquanto entidade mítica, acima de tudo e de todos(a maioria). Como se a nação não fosse a vontade e a expressão de todos os cidadãos. Como se a nação se confundisse com vontades de alguns iluminados e interesse de outros tantos. Embora ainda debaixo da capa formal da democracia, restaurada em 1974, é este o pensamento dominante na esfera do poder nos tempos actuais.
Nasci no Estado Novo, mas aprendi a ser republicano. Ensinaram-me que o poder perpetuado ao longo do tempo na mesma família é um privilégio antidemocrático e nesse sentido, não faz sentido, a existência da monarquia. Mas depois percebi que a democracia também tem defeitos e que a expressão do voto popular não é imaculada. É um preço que temos de pagar pela democracia republicana, acreditando que é possível aperfeiçoá-la. Aperfeiçoá-lo ao ponto de não elegermos gente sem qualidades e sem competência como os que nos governam. Aperfeiçoá-la ao ponto de não elegermos um homem sem qualidades para a mais alta magistratura da nação. Um homem que pôs o interesse da sua família política acima do interesse do país. Um homem que debita banalidades e respira contradições, arrastando num interminável ópera patética o seu mandato. Que acabe depressa, senão começamos a ter saudades da monarquia.
MG