Sobre a lucidez
Os alemães podem ter uma grande capacidade de trabalho. Sempre o demonstraram. Contudo o seu percurso histórico não abona muito em favor da sua lucidez. A Alemanha apresenta um currículo pautado por guerras e conflitos. No tempo da primeira união do espaço europeu, designado como Império Romano, as tribos germanas começaram a forçar a sua entrada neste espaço atraídas pela sua riqueza. No século V aproveitando o enfraquecimento da civilização romana, conseguiram derrubar o imperador e destruir a unidade politica do império, dividindo-o em vários reinos que se digladiavam entre si. Começou então o longo período chamado de Idade Média ou idade das trevas. Apesar das imperfeições do império, com uma economia assente, em parte, num injusto trabalho escravo, deu-se de facto um enorme recuo civilizacional na organização económica, política, social e cultural da Europa. A época do feudalismo correspondeu a constantes conflitos dentro do espaço europeu. Com o advento do capitalismo comercial as lutas continuaram pelo controle de territórios, mercados e matérias primas, tendo culminado com duas guerras mundiais no século XX. A opção pela guerra como forma de dirimir interesses não é uma opção inteligente, especialmente depois da mudança de mentalidade gerada pelo humanismo. Neste aspecto a Alemanha não esteve do lado da lucidez.
No pós-guerra, os dirigentes europeus perceberam que a construção de uma Europa de progresso e paz passava pela união. Nasceu então o projecto da união europeia. A sua formação baseada na cooperação e na solidariedade transformou na segunda metade do século XX a europa num espaço avançado de bem-estar. A recente crise do capitalismo foi aproveitada pelo governo alemão, valendo-se do seu poderio económico, para se auto-eleger como o patrão da Europa. Esquecendo que a sua recuperação se fez à custa de todos os europeus, voltou a puxar dos galões racistas da sua superioridade, para dividir os europeus entre os laboriosos do norte e os preguiçosos do sul. Está mais uma vez no caminho errado. A europa precisa de mais união política e económica. A Europa precisa de mais igualdade e de mais solidariedade. A Europa não precisa de xenofobia. Por esse caminho desintegrar-se-á. E nessa queda para o abismo também estará a Alemanha. Os alemães não aprendem com a história. Os alemães podem ter muita capacidade de trabalho, mas têm pouca lucidez.
MG