Aventureiro acidental
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Parafraseando o escritor Lobo Antunes numa crónica da revista Visão, "agora deu-me para ficar bonito". E vai daí, toca a caminhar que nem um desalmado. Mas porque aqui, por onde caminho, ainda não existe um daqueles percursos de país desenvolvido, tenho de partilhar as ruas, bem perfumadas com fumaça diesel, com parceiros de quatro rodas,
Ao fim da tarde saio da minha área de conforto, mais antiga e mais tradicional e atravesso-a quase sem ver vivalma. Como um descendente de descobridores passo uma espécie de Bojador e entro, sem pedir licença, num mundo completamente diferente. Ali continua a falar-se português sem TLEBES e sem acordo ortográfico, mas um português mais suave, mais adocicado, menos bárbaro. É como se estivesse numa expansão ao contrário. Gente colorida na pele e nos gestos. Mais alegre, muito mais alegre. Mais jovem, muito mais jovem. As crianças estão fora dos seus casulos e brincam despreocupadas na rua. As mulheres tagarelam ou fazem trabalhos manuais. Os homens em pequenos grupos discutem sabe-se lá o quê. Um pequeno grupo comandado por um capitão, faz exercícios físicos com método de treino. E eu observo e admiro e sinto-me renascer, pelo menos em espírito.
Agora, quando parto da minha zona sisuda, reservada e mais envelhecida, no meu jogging vespertino, já não sei se vou para ficar esbelto e elegante sem protuberâncias inestéticas ou se vou para mergulhar nessa aventura de desoberta. Se calhar, não perdemos os genes acumulados durante gerações! Se calhar, o nosso ADN, caldeado na mestiçagem, sabe que é na mestiçagem e na diversidade que o mundo se renova. E nesse aspecto somos campeões.
Ao fim da tarde lá vou à aventura...
Cronista acidental