Tempos sombrios
O fim da segunda guerra mundial encerrou um dos períodos mais negros da história europeia. As consequências desse período trágico que relegaram a Europa para segundo plano na economia mundial fizeram soar campainhas de alerta. A classe política em particular e os cidadãos em geral perceberam que o caminho do confronto tinha de ser abandonado. Num espírito de concórdia e unidade foi-se construindo uma Europa solidária. Com avanços e recuos, com erros, mas com a convicção que era possível a existência de um espaço de paz e de bem estar que serviria de exemplo para o resto mundo.
Nos últimos anos esse processo começou a ser profundamente abalado. São várias e complexas as causas que o explicam. Nem pretendo analisá-las no âmbito deste texto. Mas um factor que me parece incontornável: é a subjugação do poder político pelo poder financeiro. Por outras palavras vivemos em regimes democráticos, mas sob uma ditadura financeira.
O que é mais preocupante são os sinais que começam a surgir e que provam que apesar da generalização do ensino os povos continuam a ser analfabetos culturais. De facto o comportamento dos cidadãos votantes (e os seus dirigentes) os revela que não sabem nada de história. Colocados perante uma situação de refluxo social dirigem o seu descontentamento para situações radicais. Se tivermos memória facilmente nos lembramos como no passado levaram Hítler ao poder.
Hoje o descontentamento, mau grado os erros de alguns políticos, acolhe-se em partidos que põem em causa o establishment, sem apresentarem uma solução credível e segura. O fenómeno Syrisa na Grécia é um exemplo claro destas opções. Muitos adeptos da esquerda andam eufóricos com a possível vitória dos radicais na Grécia. Não comungo dessa euforia. Syrisa promete fazer a quadratura do círculo ao dizer que mantem a Grécia na UE e simultaneamente dispensa o financiamento do país pela Troika. Também na Itália se perfila o crescimento de um movimento chamado Cinco Estrelas e que aparece nas sondagens em segundo lugar. Com um programa incoerente e vagamente baseado na democracia directa, no anticonsumismo, no antipartidarismo no "decrescimento", uma mistura de anarquia moderna e feudalismo século XXI.
Sou um " iluminista" e como tal acredito no aperfeiçoamento contínuo da humanidade, mas começo a recear que se aproximem tempos sombrios. Se a classe política ultra liberal que governa a Europa, não for substituida rapidamente, corre-se sério o risco de chegarem tempos conturbados. Urge mudar, enquanto há tempo.
MG