Mundos paralelos (Imaginarius)
Maurangas Argentina
Imagine que está sentado na relva de um jardim a assistir ao espectáculo de tipo sul-americano com muita piada. Imagine que o indivíduo lhe enfia um capacete militar e o arregimenta para com outros ex-assistentes formar um pelotão. Imagine que lhe coloca uma campainha na mão e que o faz agitá-la em sincronia com outras campainhas fazendo-o protagonista de um concerto.
Imagine que está no meio de uma pequena multidão numa praça pública e vindos do nada entram pela praça cinco estranhas figuras, caras inexpressivas, qual esculturas de tosca madeira, vestidos de fatos cinzentos com malas de executivos bancários. Imagine que que se deslocam em estranhos movimentos, hirtos e silenciosos por entre a multidão. Imagine que olhos nos olhos nos interrogam sem dizer uma palavra sobre o nosso tempo de vida e como o passamos. Imagine que entram no edifício da Câmara Municipal, surgem nas varandas e nas janelas em inesperadas coreografias e de onde por fim descem pendurados em cordas e estranhos bailados e acrobacias, sempre munidos das suas pastas de executivos. E veja-os "Ansiosos, assustadores e, porém, patéticos (...) figuras tragicómicas, palhaços do nosso tempo. Irá o sistema colapsar? Estaremos nós no seio de um desastre ou será este já o dia após a catástrofe? Se somos “recursos humanos”, para quê sermos a matéria-prima? Como gastamos o nosso tempo de vida? " Eia as interrogações que permanecem.
Imagine-se numa noite escura envolvido numa dramatização sobre a existência e o seu sentido. Imagine-se protagonista de uma história do mundo pautada por guerras de interesses e de invenção de todos os muros. E veja-se confrontado com a dúvida: estamos sós ou será que alguém nos observa? E veja a acção desenrolar-se em palcos móveis por entre o grande palco ocupado por uma multidão. E espante-se perante os efeitos visuais finais, multimédia, de artes circenses e pirotecnia que deixarão em aberto esta questão: "poderá ser que façamos parte do todo da existência e, consequentemente estejamos ligados a todos os humanos e aos outros seres do universo? "
Imagine-se em mundos paralelos por onde se circula livremente sem pagar qualquer imposto. Imagine-se em mundos sem austeridades e sem a desbunda do capitalismo selvagem sem alternativa e onde há vida para além da troika e onde se comprova que nem só de pão vive o homem e onde a vida não se resume num cifrão.
Isto e muito mais não foi apenas imaginação. Isto e muito mais(cirque hisurt, frança, teatro a quatro, teatro bandido, Portugal, prodicciones aledañas, Espanha etc, etc ) viu-se no Imaginarius, Festival do Teatro de Rua em Santa Maria da Feira. Sonho, alegria, reflexão, esperança, espectáculo!
MG
PS Os meus agradecimentos ao município de terras de Santa Maria, por oferecerem, gratuitamente, há doze anos, a milhares de visitantes, este festival de cultura, único no país.