Parêntesis meio poético
Este é um parêntesis atípico e particularmente estranho. Não brota da realidade. Nasce e vive estranhamente prisioneiro de si próprio. Nasce e vive na mente que o cria e aprisiona. Não é um exercício sobre as coisas mas sobre o porquê das coisas, da razão de ser das palavras e da sua utilização, na sua vertente mais pura, a poesia.
Ás vezes construo umas frases a que atribuo formalmente o rótulo poesia. Mas sei que não sou poeta. Poesia não se aprende. Grosso modo e
salvaguardadando toda a subjectividade e matéria opinativa considero que há poetas e escrevedores de poesia,(sem desprimor) categoria onde me
incluo. Nos meandros da minha mente procuro estabelecer a diferença, neste dia mundial da poesia:
O poeta sabe:
Levam justiça consigo
as palavras que dissermos.
Por quanto sentido antigo,
nelas ficou por castigo
o futuro que tivermos.
Jorge de Sena
para o escrevedor são apenas:
Palavras, palavras ,palavras
Expressão de sentimentos
ou de sisudas teorias,
De Babel por castigo
libertadas
No barro em cunhas
amassadas,
Com sangue escritas e
gravadas
Para poderem viver na
poesia.
E se o poeta vê:
Olhos do meu Amor! Infantes loiros
Que trazem os meus presos, endoidados!
Neles deixei, um dia, os meus tesoiros:
Meus anéis, minhas rendas, meus brocados.
Florbela Espanca
O escrevedor enxerga:
só te conheço-te pelos teus olhos
Iluminados por auroras boreais
de tempestades, de sonhos
intemporais,
de onde brotam palavras
livres de metáforas
e da ditadura das regras
gramaticais,
como é livre o pensamento das mentes excepcionais.
Enquanto o poeta sonha:
Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.
Gedeão
O escrevedor filosofa:
Os sonhos são feitos da
matéria que os sonhos faz,
Habitam etéreos no
inconsciente da inconsciência
Os desejos são sonhos que
os sentidos inventaram,
Cuja forma e conteúdo sem sentido aparente
Nos mantem no limite da demência
Que nos persegue das profundezas da mente
Um :
Brindo com o copo vazio,
O conteúdo está em mim.
Não troco sorrisos, nem lágrimas,
Mas brinco de esculpir palavras.
Finjo que são aladas, que voam.
Que têm a liberdade que não tenho
Brandão Marcon
O outro
tenho as palavras presas
na teia da minha insegurança,
No receio de que me as roubem
da lembrança
De ser por bardos aviltado
Ou , mais aviltante,
cinicamente tolerado;
Pobre verbo poético
Liberta-te e liberta-me desta pressão obsessiva
E deixa ir as palavras à deriva.
E se a poesia vive no poeta, que o escrevedor viva na poesia!
MG