"Parêntesisinho"
Mais um dia sem chuva. Nem um parentêsisinho pluvioso. Contudo, um dia lindo, cheio de sol de inverno neste país abençoado pela natureza. É para aproveitar. Assim, vou por aí fora, ao Deus dará e à pata calcorrear ruas. Hoje não me fazem pôr o pé num quatro rodas a aspirar fumaça diesel. Fico aqui mesmo, na parvónia e vou aproveitar o que é bom enquanto dura.
Depois de sair de casa faço uma paragem no café (único sítio debaixo de telha onde pouso) para tomar a habitual bica. Assim que me sento na mesa, logo uma empregada solícita mas um pouco pró descarado me aborda “ então jovem é um cafezinho?” “ Jovem é a tua tia" –apeteceu-me dizer- parafraseando um político/comentador (chamam-lhe Santana Lopes) para um “partenaire” de debate televisivo (Fernando Rosas) que lhe disse parecer o Salazar. Contive-me, pois vendo a coisa por outro prisma, quem sabe se a dama consegue ler o meu estado de espírito no mais fundo do meu ser. Mas o que às vezes começa mal acaba bem e acabei (passe o pleonasmo) por ser servido por outra mocinha (agora nos cafés é quase tudo feminino) mais recatada e algo tímida, que me olha com alguma ternura, com uns belos e profundos olhos castanhos, esboça um ténue sorriso, agitando com suavidade percings na boca e no nariz. E aí, seguindo uma sugestão recente da Golimix (é uma bloguer simpática e muito inspirada que costumo visitar (no blog), apeteceu-me dizer-lhe “gosto de ti”,( no melhor dos sentidos) dando assim livre expressão à nossa parte emocional. Apeteceu-me dizer mas não disse, porque isto de deixar que as emoções não sejam inibidas pelo flirtro racional, não é tarefa fácil. Retribuí o sorriso e fiquei aliviado.
Enfim, enquanto saboreio o agradável sabor(...) do café e passo os olhos pelos títulos dos jornais vou ouvindo conversas cruzadas ( sem alcovitice, pois se Deus nos deu ouvidos é porque quer que ouçamos) e prendo a minha atenção na vozeirão de um sujeito a defender a Lei de Talião (não percebi a que propósito) perante o olhar espantado de um casal de etnia cigana, muito bem arranjado e acompanhado por uma jovem filha com uma mini saia até à cintura ( como os tempos estão mudados). Vox populi não é para levar a sério, pensei, vou mas é concentra-me na leitura. Pior a emenda que o soneto: assassínios, acidentes, assaltos, roubos, desemprego a aumentar não se sabe até quando, mais empobrecimento, esperança zero, deputado da maioria a dizer “ quem não está bem muda-se” e o povo sempre sereno (uma virtude) e cada vez mais conformado (querem maior pieguice?). Está mas é na hora de ir caminhar para arejar os pulmões e as ideias, mas isso já não vem ao caso.
MG