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Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

05 Fev, 2012

Sem parêntesis

Quando ia pôr o pé fora da porta uma brisa arrepiante tolheu-me de imediato os Passos. Disse de mim para mim “este tempo não é para velhos” vou mas é recolher-me porque este país, também, não é para velhos. Tenho até dificuldade em perceber o Veloso quando canta que “a primavera da vida é bonita de viver” embora já tenha sido jovem. E o Outono da vida é  bonito, carago' "Não vês como isto é duro, ser jovem não é um posto" .E ser velho não é duro, caramba? Tantos velhos abandonados, tantos velhos a morrer na mais ignóbil solidão. Que aconteceu à solidariedade entre gerações? Que se passou com a ajuda de proximidade? Onde pára a fraternidade familiar?

Está decidido hoje não há parêntesis .Vou mas é calçar as pantufas , vestir o fato de mergulho, esparramar-me no sofá, ligar o LCD e inebriar-me de vida virtual, empanturrar-me de opiniões disparatadas, imbecilizar-me com os reality shows ou anestesiar-me com novelas. Não. Pensando melhor vou antes ler um bom livro. Está decidido: vou reler A tia Júlia e o escrevinhador, de Vargas llosa, uma saga divertida com muitas histórias dentro. Como ninguém pode cortar a raiz ao pensamento vou-me a imaginar dentro da acção assumindo o papel da tia Júlia, em versão masculina, quando se envolve com um sobrinho, décadas mais novo, mas que não é de sangue (nada de incestuoso). Sinto a doce sensação de enfrentar o conservadorismo familiar, a hipocrisia social e de fugir com a minha amada até conseguir que alguma conservatória esquecida nos case. Que fique claro. Isto é só em sonho e antes que esta pandilha que nos governa resolva proibir o direito de sonhar, como vai proibir a alegria no carnaval, CUSTE O QUE CUSTAR.

Toca o telefone. Querem ver, pensei, que a divina providência me ouviu e me mandou a tal sobrinha .

-Estou, arrisquei!

-Tou a falar com o sinhôr José, disse uma voz melodiosa em sotaque made in Brasil e num tom que revelava grande intimidade. Eu sou A Marta, como está?

- Oi Marta, respondi com o coração aos pulos, sentido o seu calor no frio deste inverno e que tudo o mais vá pró inferno!

- Sinhôr José foi seleccionado para fazer um check-up gratuito na próxima semana. Posso fazer-lhe umas pérguntas?

-Embatuquei e no limite apeteceu dizer “ó Marta vá pró raio que a parta”, mas puxei pelos galões da educação, ao mesmo tempo que me lembrava que fui vendedor de enciclopédias e compreendo bem o papel da moça. Porque uma mentira piedosa não condena às penas do purgatório, ouvi-me dizer:

-Desculpe menina sou hipocondríaco e o meu médico proibiu-me os check-ups. Eu estava a precisar era de um check-in que me tirasse deste frio de rachar, que o Outono da vida não é um posto com tantas rugas no rosto. E num longo parêntesis me levasse para um paraíso fiscal, tipo ilhas Caimão, pelo menos até passar este frio meteorológico e de indiferença social.

 

MG

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