Portugal dos pequenitos
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No tempo em que era pequenino, o lugar dos pequeninos estava rigorosamente delimitado. O nosso mundo distinguia-se claramente do mundo dos adultos. Nesta fase estávamos a aprender a crescer com métodos (discutíveis) que estão nos antípodas dos actualmente usados. Cada macaco estava no seu galho e era obrigação dos mais novos ouvir e respeitar os mais velhos. O respeitinho era muito bonito quer se gostasse ou não. E quando não se entendia com entendimento, caia-nos logo no pelo uma sonora chapada. Os dirigentes do Estado Novo até criaram um Portugal em miniatura para aprendermos o país e o patriotismo. Era o Portugal dos pequenitos.
A queda do Estado Novo trouxe um novo Estado. Anos de liberdade condicionada fizeram estourar as amarras e a justa liberdade saiu para a rua. Mas a liberdade liberta, depois de tanto tempo encarcerada, esqueceu limites e confundiu-se com libertinagem. Perderam-se valores como o respeito. Esqueceram-se atitudes como a disciplina. Desrespeitaram-se hierarquias, ostracizou-se a autoridade. O resultado está à vista: anos e anos perdidos de formação cívica responsável e a instalação de um Portugal de pequenitos do Minho ao Algarve.
Essa geração de gente com sem valor e sem valores está agora no poder. Pouco mostra saber de História e nem parece ter a noção que este país soberano tem fronteiras estáveis desde Alcanices, há muitos séculos. Confunde servilismo a potências estrangeiras com cumprimento de acordos de âmbito bilateral. Confunde partilha de soberania com entrega de soberania. Vende dignidade em troca de qualquer prato de lentilhas. O Portugal dos pequenitos contaminou o país e contaminou o Estado. Até quando?
Em tempo de pequeninos na superstrutura da Europa, precisávamos de um Portugal de gente grande, que despertasse e mobilizasse sem receios os povos vítimas de ,no mínimo, obscuros interesses, para um novo paradigma. Se todos somos europeus e se todos somos iguais perante a lei por que raio hão-de ser alguns mais iguais que outros.
MG