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Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

17 Nov, 2011

Aniversário

No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.

 

Fernando Pessoa (Álvaro de Campos)

 

A noite era escura e tinha estrelas abraçadas pela lua,

Os pássaros voavam em bandos por cima dos trigais,

Espantando os insectos parasitas.

Os galos cantavam sempre de madrugada anunciando o sol

Que amadurecia as searas,

No Tempo em que festejavam o dia dos meus anos.

 

Corria pelos campos enlameados pela brisa matinal,

Mergulhava livre nos pegos  enxameados de cardumes ,

Corria atrás da bola de farrapos em relvados de terra escura

E pontapeava a vida com candura.

Eu era feliz e ninguém estava morto

 

Aprendia nos longos serões

A vida vivida e a esperança do devir de ser alguém,

Aprendia na cartilha maternal o passado reflectido no presente

Para ser homem português e cidadão,

Porque

Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos

 

Nas feiras de tendinhas animadas por ousados carrosséis,

Nos bailes de concertinas afinadas em concertos de desafinação,

Arrastavam-se pesados pés em ladrilhos poeirentos de ilusão,

Sapatos de homem beijando os de mulher.

Crescia mais um palmo em cada dia,

E a alegria de todos e a minha estava certa como uma religião qualquer