Economia de totós
A austeridade é uma política ideológica mascarada de política económica. Ela assenta no mito, inteiramente falso, de que a despesa pública é um desperdício e uma perda de riqueza sem retorno e que não conduz a qualquer recuperação económica. Todavia, o Mundo é muito mais complicado e os factos, indesmentíveis, são os seguintes: os países social e economicamente mais equilibrados e que mais rapidamente saíram das respectivas crises foram aqueles onde houve um forte estímulo económico público, dado que nas presentes circunstâncias mais ninguém o fará e são aqueles onde há maior despesa em políticas sociais e maior equidade na repartição da riqueza. Neste sentido, o primeiro-ministro deveria inverter a sua estratégia (se é que tem alguma) e colocar firmemente em cima da mesa a renegociação com o triunvirato, tendo em vista quer a recalendarização, quer a supressão das medidas fortemente recessivas. Acresce, ainda, que deveria negociar medidas de apoio ao relançamento e crescimento económico, bem como ao emprego, sobretudo agora em que se discute não só o perdão da totalidade ou parte da dívida grega, mas também de novos apoios tendo em vista o relançamento da economia helénica.’
• Domingos Ferreira (professor e investigador – Universidade do Texas, EUA/Universidade Nova de Lisboa), Economia para totós [hoje no Público]: