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Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

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05 Out, 2011

República?

 31daarmada.blogs.sapo.pt

 

No dia 5 de Outubro de 1910, acordámos monárquicos e adormecemos republicanos. Passados cem anos, os vencedores comemoram essa data com  música e foguetório como tendo posto fim ao pior dos regimes. Mas na realidade o que é que mudou com o advento do republicanismo? Praticamente nada. O regime democrático estava implantado desde 1820 e consolidado desde a década de trinta.  A nobreza e ao clero já tinham sido retirados o poder e os privilégios. A Constituição garantia a todos os cidadãos os mesmos direitos e deveres gerais.

 

As mudanças do regime republicano resumem-se a aspectos formais e correcções legislativas. Substituíram o Rei por um Presidente de nomeação parlamentar e sem qualquer poder real. Restringiram o direito de voto aos cidadãos que sabiam ler e escrever, num país de analfabetos. Proibiram, claramente, as mulheres de votar, situação que na Constituição anterior estava omissa. Fizeram uma reforma do ensino primário que ficou no papel. Não contribuíram para o desenvolvimento económico. Não deixaram obra digna de registo.

 

A marca da primeira República é a instabilidade permanente, a luta fratricida entre correligionários, o golpe e o contra-golpe, o descalabro das finanças públicas, a miséria do país.

 

A escolha política na sua essência não é entre monarquia e república, mas entre democracia e ditadura. Em  1910 apenas mudaram os dirigentes. Foram-se as elites monárquicas ficaram as republicanas. Mesmo do ponto de vista formal a República foi muitas vezes menos democrática que a Monarquia. Relembro as ditaduras de Pimenta de Castro e de Sidónio Pais por exemplo, ou a longa ditadura salazarista que muito deveu ao desvario republicano.  A grandeza de um país depende da qualidade das suas classes dirigentes. Os governantes republicanos do início do século XX não trouxeram nobreza e responsabilidade à política, antes pelo contrário. Por isso considero exagerada a relevância dada a esta data em detrimento de outras talvez mais determinantes, como S. Mamede, 1383, 1640, 1820, completamente esquecidas. 

Uma das virtualidades da história é permitir-nos tirar lições. A desbunda da primeira república deveria servir de exemplo aos políticos actuais, que continuam a fazer da política uma chicana permanente em defesa das suas clientelas. O país é mais importante.

 

MG

 

PS - Da análise aqui apresentada não se deve inferir qualquer simpatia por causas monárquicas.