Pobreza real
Há dias vi no consultório de um dentista uma avó com dignidade, resignação e humildade cancelar a consulta da neta por não ter dinheiro para a pagar. Hoje vi num minimercado um casal, ainda relativamente jovem, comprar três carcaças e pedir à empregada um euro de paio do mais barato. Este iria ser, possivelmente, o seu jantar. Esta não é a pobreza das estatísticas, nem a pobreza do verbo fácil dos políticos dos gabinetes climatizados, mesmo dos ditos de esquerda. Esta não é a pobreza que pontua nas manifestações organizadas agitando bandeiras e declamando slogans ensaiados. Esta é a pobreza, melhor a miséria real e desconhecida de carne e osso.Esta é a pobreza que no nosso comodismo e egoísmo não conhecemos ou não queremos conhecer. Esta é a pobreza que nós sociedade de bem-estar sacudimos do nosso capote, mas da qual também somos responsáveis com os políticos de todos os matizes. Esta pobreza que não aparece nas tiradas dos revolucionários das redes sociais é a pobreza que nos devia envergonhar e indignar para além do posicionamento pretensamente justicialista que assumimos, só da boca para fora, para tranquilizarmos a nossa consciência. Esta é a pobreza que me deixa céptico sobre a natureza humana.
MG