• Miguel Sousa Tavares, DE ONTEM PARA HOJE [hoje no Expresso]:‘
Comecemos pelos factos, antes das intenções: há três meses, toda a oposição, incluindo a direita,
chumbou o PEC 4 de José Sócrates com o argumento de que não havia crise internacional nem crise financeira do Estado português que justificassem mais um catálogo de sacrifícios
: havia apenas má governação. E, portanto, a solução era simples e entrava pelos olhos dentro: apear o governo de Sócrates.
De então para cá, os juros da dívida soberana portuguesa subiram 60% nos mercados; o governo demitiu-se, como tinha dito que faria se o PEC 4 não fosse aprovado; abriu-se uma crise política e fomos para eleições, entrando num período de letargia governativa na pior altura; em consequência e perante a reacção dos mercados, foi preciso recorrer ao auxilio externo e acatar o programa de medidas da
troika
bem mais gravoso do que o PEC 4, mas aceite pelo governo e, quase entusiasticamente, pela oposição de direita que recusara o PEC 4; fomos depois a votos e mudámos de maioria e de governo; e,
apresentado o programa do novo Governo, constatamos que ele vai, orgulhosamente, ainda além e mais depressa do que o programa da troika e incomparavelmente mais além do que as medidas do PEC 4, cuja invocada violência justificou o derrube do anterior governo
. Longe parece o tempo (há um ano) em que Pedro Passos Coelho pedia desculpas públicas por quebrar a sua promessa programática de não subir impostos, aceitando viabilizar o PEC 3. Hoje,
o seu programa de Governo é, antes de mais qualquer coisa, um ataque em massa aos contribuintes
. Longe vai o tempo que
Paulo Portas garantia que as políticas de Sócrates só conduziriam à recessão: agora, é o novo ministro das Finanças a anunciar, tranquilamente, nove trimestres de recessão seguidos