Carrossel da vida
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Nas feiras da minha infância havia sempre um carrossel. Ciclicamente, todos os anos, voltava com a mesma alegria, emitindo pela roufenha instalação sonora canções em voga.
Começou oficialmente o verão, que como os carrosséis da época de todos os sonhos, volta impreterivelmente todos ano após ano no solstício de verão. A estação estival, transporta consigo a luz que nos liberta dos soturnos dias invernosos, frios, escuros, breves. Dá-nos sensações de plenitude, de libertação, de renascimento. É tempo de férias, de soltar as carnes oprimidas das amarras do pudico vestuário. É tempo de nudez controlada, de plasmar o corpo na cálidas praias, absorvendo sofregamente os raios solares. É tempo de libertar o espírito da depressão nórdica, da caverna platónica e mergulhar na realidade irreal de mundo ideal.
O mundo ideal da irrealidade que o verão expressa é leve, breve e volátil, Passa ao ritmo da estadia das andorinhas, mas cria a ilusão que é eterno porque volta sempre com pontualidade britânica. Um após outro, num ciclo de infinitude, o verão é o carrossel da vida: "nova corrida, nova viagem".
No sobe e desce, na lufa, lufa, no rodar vertiginoso, distrai-nos da marcha natural do tempo, de que só nos apercebemos quando um dia olhamos o espelho e a notamos cravada nas rugas que cavam o rosto. E o carrossel continua imparável:"nova corrida , nova viagem", a vida é uma miragem, a vida é uma passagem para outra margem.
MG