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Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

lisboacity.olx.pt

 

 

O primeiro homem estava com imensa sede, mas tinha receio de ir ao pote. O segundo homem empurrou-o e disse: -vai sem medo ,o pote está perto. O terceiro homem, no seu mutismo cínico, apontou-lhe o pote com ar severo.

 

O primeiro homem , sempre receoso avançou para o pote, mas a indecisão queimava mais que a sede. Junto ao pote o guardador tinha um ar exausto. Num trabalho ciclópico procurava ir tapando os muitos buracos de um pote a desfazer-se por décadas de mau uso, muita cobiça e muita pedrada. Mas quantos mais buracos tapava, mais outros se abriam, com tanta gente a furá-lo. O guardador caíu exausto e adormeceu profundamente. Quando acordou, assustado, já lhe tinham tirado o pote. 

 

O primeiro homem caminhava eufórico com o pote, seguido de uma matilha sedenta. Todos queriam ir ao pote, mas quando o primeiro homem o pousou sofreu uma desilusão: o pote estava vazio. De repente, do nada, surgiram três  cavaleiros apocalípticos. O número um, levantou a espada e disse: -tens de voltar a enche-lo; o número dois levantou o escudo e falou: -tens de o concertar; o terceiro homem, levantou o elmo e grunhiu: -despacha-te, temos muita pressa de beber nesse pote.

 

A matilha sedenta grita em coro:-a culpa é do guardador! -morte ao guardador. Mancos, coxos, aleijados, ingénuos, raivosos, ressabiados que seguiam a matilha vociferam em coro: -morte ao guardador, é o diabo em pessoa, até enganou Adão e Eva.

 

O pote tem agora novos guardadores, tão sedentos quanto vingativos. Irá sobrar alguma coisa?

 

MG