Crise e Seriedade
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Não sou economista, nem sei muito de finanças, mas tive o privilégio de estudar história económica e a obrigação de me imiscuir nas finanças do dia a dia. E é com esta formação, complementada com um pouco de perspicácia e um rasgo de intuição, que analiso a vida como ela é.
Na vida como ela é, o problema de Portugal não é conjuntural, mas estrutural, não é culpa deste ou daquele governo, mas de opções de política económica ou falta delas a longo prazo. Perdido o império, Portugal entrou no século XX com uma economia essencialmente agrária e assente numa agricultura de subsistência e subsidiariamente num sector pesqueiro maioritariamente artesanal. A incipiente indústria teve algum crescimento e alguma inovação, mas continuou refém de mão de obra barata e pouco qualificada.
A democracia e a adesão à CEE, com a entrada de fundos comunitários, trouxeram avanços tecnológicos limitados no sector produtivo. A maior parte destes fundos, foi utilizada para melhorar infra-estruturas e para desenvolver o sector dos serviços, com grande relevância no aparelho de estado, sorvedouro de vastos recursos. O bem estar social que se foi instalando, não foi suportado por um aumento real de riqueza mas por uma distribuição estatal, da qual passou a depender mais de metade da população.
Neste contexto, o sector produtivo continuou anémico : a agricultura foi fechando portas à conta de subsídios; o cluster do mar foi completamente desmantelado; a indústria não aproveitou o financiamento para se modernizar e diversificar. Ficamos, cada vez mais, um país com uma balança comercial desequilibrada, importando muito e exportando pouco. Nestas circunstâncias a divida pública e privada esteve em constante crescimento.
A crise financeira que atingiu o mundo capitalista, afectou principalmente as economias mais débeis. O governo português, procurou minimizar os seus reflexos na sociedade, aumentando apoios e subsídios à custa do endividamento do estado . A dívida pública cresceu exponencialmente. Aproveitando esta situação, a especulação financeira utilizou a fragilidade dos países mais fracos, para num ataque sem precedentes, os explorar ainda mais, com a desculpa das dívidas soberanas.
Ao contrário da tese da crise conjuntural, atribuída ao governo em funções, pelos políticos da oposição para conseguir captar votos, as raízes do problema, como referi ,são muito mais profundas e abrangentes. Por isso, a solução não se encontra numa mudança de governo, mas numa alteração da estrutura, que passa a nível interno por uma política do reforço do aparelho produtivo e a nível externo por um novo paradigma. Paradigma que tem de assentar no domínio da política sobre a economia especulativa. Só há solução para a crise, com uma intervenção conjugada a nível europeu e mundial. Se assim não for, prevejo sérios problemas.
MG