Acorda amor Eu tive um pesadelo agora Sonhei que tinha gente lá fora Batendo no portão, que aflição
Chico Buarque
Acorda amor
Ouço Passos subindo a escada
No bolso sinto uma mão pesada
Remexendo remexendo em nada
Que aflição!
Acorda amor
não sei se é sonho se realidade
Ajuda-me a parar esta ansiedade,
pois não sei que fazer
Que confusão
Acorda amor
estou mesmo a ver umas criaturas
com umas auras muito escuras,
e eu aqui preso no colchão
Crescei e multiplicai-vos" disse Deus, se a reprodução bíblica é exacta, depois de juntar o homem e a mulher. Não estão descritos mais pormenores, pelo que não ficou explícito se o acto sexual era limitado à procriação. Nem sequer nos "Mandamentos" há referência ao exercício da sexualidade. Assim e com a informação disponível podemos concluir, que a prática do referido acto pertence ao livre arbítrio dos utilizadores e que é necessário praticá-lo. A gravidez é (...)
toca o sino
pra procissão
corre o emigra
no seu carrão
estala o foguete
no pino do verão
O rosmaninho
rasteja no chão
milhares de rodas
comem alcatrão
baratas tontas
em diversão
felicidade
em poluição
À romaria
chega o ladrão
com muitos sorrisos
semeia ilusão
parte confortado
por grande ovação
o sino repica
pra corrupção
Roubam a seara
pra tirar-lhe o pão
espremem o suor
como a um limão
esquece-se a injustiça
e a aflição
pár (...)
Fosse eu Sol
ou fosse vento,
nos teus braços
me acolhia,
e no calor do
abraço
encantado
adormecia.
Se fosse azul
de céu,
fosse mar
ou maresia,
nos teus olhos
me afogava
nos teus olhos
renascia.
Se fosse duna
e areia,
onda praia
e calor,
me enroscava
no teu corpo
contigo fazia
amor.
Se luz fosse,
escuridão,
fosse noite
fosse
dia,
me deitava
no teu sono
e no teu sonho
vivia.
MG
São Pedro tem lá no céu
um estatuto popular
em vinte e nove de junho
desce à terra pra reinar
trouxe grande reinação
durante uma noite inteira
com grande satisfação
até saltou a fogueira
e até de madrugada
distribuiu simpatia
ao raiar da alvorada
continuava a folia
foi-se embora santo António
foi-se embora são João
está quase a partir S. Pedro
mas fica a exploração
Podes não governar bem
Desde que digas amem
E representes o papel de um zé ninguém
Em play back, em play back, em play back!
Vais até muito além
Com a bênção do vôvô de Belém
Do que exige a troika, e o teu estilo do cacém
Em play back, em play back, em play back!
Vai dizendo ao microfone
Que a vida é feita de fome
(...)
Vou-te levar às Docas
Pra abanar o capacete
E ver os barcos do tejo
À noite as águas beijar
E que morra aqui
Se lá não te levar
Vou-te levar num barco
Sem remos e sem radar
Perdido no oceano
Tendo como tecto as estrelas
E como leito o mar
Morra se não te levar
Vou levar-te à lua
Nas asas do avatar
Pra que sonhes com o amor
Viciada de luar
E morra aqui
Se lá não te levar
Vou-te levar ao céu
Com um anjo a anunciar
A loucura do amor
Que tu me quiseste dar
Exercício particularmente estranho. Não brota da realidade. Nasce e vive estranhamente prisioneiro de si próprio. Nasce e vive na mente que o cria e aprisiona. Não é um exercício sobre as coisas mas sobre o porquê das coisas, da razão de ser das palavras e da sua utilização, na sua vertente mais pura, a poesia.
Ás vezes construo umas frases a que atribuo formalmente o rótulo poesia. Mas sei que não sou poeta. Poesia não se aprende. Grosso modo e salvaguardadando toda a (...)
Fez ontem trinta anos que desapareceu fisicamente Ary dos Santos. No entanto continua vivo nos poemas que deixou. A tourada que foi canção de sucesso em 1973 faz uma crítica mordaz ao regime caduco que iria cair no ano seguinte. Aqui recordo na voz de Fernando Tordo. Presto também a minha homenagem a Ary com este remake a que intitulo de "A tourada continua".
Fomos levados ao engano
por capote de um cigano
com promessas do camano
beras
Entram moços jotas e comentadores
(...)
Durante a minha infância a pobreza era assumida como um destino. Mais pobre que os pobres era o Descalço caldeireiro itinerante. Em tempos de apologia da pobreza aqui lhe presto justa homenagem, esteja onde estiver.
Descalço nasceu pra vida
descalço continuou
sapatos nem de defunto
nunca nos seu pés usou.
Num saco de linho sujo
trazia a sua existência
um prato, um copo de vinho,
e a sua competência.
A sua casa era o mundo
dormia em lençóis de nuvens
tapado (...)