As criancinhas são a melhor coisa do mundo?
As criancinhas são a melhor coisa do mundo é uma frase feita e já quase mítica com uso preferencial no pós-25 de Abril. Mas para além desta formulação consentânea com o clima associado à recuperação da liberdade política, as criancinhas só são a melhor coisa do mundo quando crescem como adultos equilibrados, responsáveis, tolerantes, solidários, cultos e esclarecidos. Não é isso que tem estado a acontecer.
Uma mudança consistente e duradoura da sociedade, tem se ser acompanhada de uma mudança profunda de mentalidades. Durante o longo período salazarista os portugueses foram condicionados pela propaganda para um estado de pobreza alegre, humildade virtuosa, ignorância endémica, subserviência natural. No pós-25 de Abril, a mentalidade tacanha do Estado Novo, foi substituída pela mentalidade tacanha do igualitarismo básico e pelo novo "riquismo" popular, pela soberba do rei na barriga , pela sabedoria do chico-espertismo.
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O 25 de abril falhou na cultura e falhando na cultura destruiu-se num processo autofágico. A educação cometeu erros atrás de erros, numa espiral de eterno retorno. A família, numa interpretação libertina da liberdade, deixou a inocência infantil evoluir ao sabor dos seus impulsos desregrados. A escola demitiu-se de ensinar, esqueceu-se de disciplinar, já não consegue exigir. Acomodou-se ao "facilitismo", deixou-se levar na onda eufórica da inutilidade cultural. Tutelado por analfabetos funcionais em educação real, dirigida por pseudo-democratas do não me chateiem, agravado com o neo-liberalismo do quem quer aprender paga, o sistema de público é um sorvedouro de recursos sem contrapartida válida.
Enquanto não se mudar este paradigma do desleixo e da incompetência como modelo de sucesso, não se altera uma vírgula na sociedade da ignorância, do desrespeito, do não reconhecimento das hierarquias do conhecimento, do poder da boçalidade. As criancinhas poderão continuar a ser a melhor coisa do mundo, mas o mundo não deixará de ser uma brincadeira de criancinhas irresponsáveis e oportunistas.
MG