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Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

23 Set, 2016

Pôr-se a jeito

O deputado Oliveira do PCP  usou num texto publicado no Avante uma expressão muito interessante, a propósito da polémica sobre o anunciado imposto sobre património: "uns juntam com o bico, outros espalham com as patas". Esta simples caracteriza a política de capoeira quando uma galinha na ânsia de dar nas vistas espalha o milho que devia estar resguardado. Logo outros galináceos aproveitam para bicar. Foi, de certo modo, com as meninas do bloco, ao divulgarem uma medida, ainda em apreciação, para se pavonearem como donas da ideia. E deram espaço à direita revanchista para atacar a geringonça que neste caso se geringonçou. Que aprendam a lição. Nunca nos devemos pôr a jeito.

Um eventual novo imposto sobre o património está a gerar uma histeria comunicacional. Faz lembrar a expressão "contar com o ovo no cu da da galinha". O facto é que ainda não foi apresentado nenhum novo imposto. Há rumores, insinuações, "bocas" daqui e de acolá,  que essa alteração na carga fiscal fará parte do orçamento do Estado para 2017. Em concreto é  um ovo imaginado e na melhor das hipóteses em gestação.

Os comentadores andam frenéticos em artigos de jornal,e em debates televisivos. As forças partidárias desdobram-se em declarações, inventam cenários. Uns e outros, a uma só voz de condenação, prevêem o fim do mercado habitacional, a ruína da construção civil, o desemprego galopante, a fuga do investimento. Choram lágrimas de crocodilo pelos pobres investidores. E pasme-se, avisam para o perigo da sovietização.

Mas no fundo, qual é a substância do que se discute? Nenhuma. Ou melhor, as características de um ovo que não existe, o seu tamanho, a cor da sua gema, os nutrientes que possui, a forma como é cozinhado. Será escalfado, cozido, frito ou quiçá em omeleta.

Mesmo que a galinha venha a parir o ovo tão maltratado antes de nascer, que até parece mais ovo de serpente que de ave de capoeira, só então será sensato discutir a sua natureza. Se é branco, preto ou às pintas. Até lá não seria melhor meterem a viola no saco , ou então darem ao pagode uma música menos pimba?

PS, Acabei de ver um vídeo onde "ex-primeiro" nos seus tempos de "primeiro" fazia a apologia do dito imposto. Agora considera-o uma criação de Belzebu, a sovietização, o PREC. Mudam-se os tempos mudam-se as convicções. A coerência deve ser verde e veio um burro e comeu-a.

 

Não me identifico ideologicamente com Mariana Mortágua. A história mostra que a constituição de uma sociedade sem classes e sem qualquer exploração, não está no ADN da humanidade nesta fase do seu desenvolvimento. Portanto, acreditar no imediato em projectos de total igualdade social não passa de uma utopia. Mas as utopias geram a esperança que alimenta a luta pela construção de um mundo mais justo. São legitimas e quem as defende merece todo o nosso respeito.

Falta de respeito pelas ideias dos outros  não é uma atitude democrática. Antes pelo contrário, a atitude de intolerância está mais próxima do totalitarismo, do que aqueles que disso são acusados, em função do seu posicionamento político. Com efeito, as palavras de Mariana Mortágua num encontro partidário em Coimbra, estão a ser utilizadas por escribas avençados, de uma forma intencionalmente distorcida. Que crime cometeu a jovem deputada? Limitou-se a expressar opinião sobre a forma de tributação, cuja mão tem sido sempre mais pesada sobre os rendimentos mais baixos. Logo caiu o Carmo e a Trindade, pela segunda vez, na voz e na pena daqueles que como Helena Matos ou Paulo Ferreira, e o papa da demagogia Camilo Lourenço, entre outros, consideraram tais declarações como prenunciadoras da sovietização de Portugal.

O ataque a Mariana Mortágua e a tentativa de considerar o PS um partido adepto dos regimes soviéticos, só porque alguns eventuais simpatizantes, aplaudiram a deputada do do BE, raia o absurdo e demonstra  uma total falta de vergonha. Aqueles que durante o mandato do governo anterior não publicaram uma vírgula a criticar a aplicação da austeridade e das suas consequências, vêem agora nos tímidos progressos sociais o fim do mundo. Aqueles que consideram que os principais detentores da riqueza, são beneméritos que criam postos de trabalho para os miseráveis poderem comer, e se julgam únicos detentores da verdade, escondem que são estes miseráveis que produzem a riqueza de que os primeiros beneficiam. E escondem que se estes não cultivarem a terra ou não construirem as casas também não têm comida, nem lugar para habitar.

O insulto como argumento contra a deputada, procurando atingir a sua família, a distorção da realidade para manter o "status quo" da exploração a qualquer preço, mostra o seu desespero. Os abutres estão famintos do sangue e do suor dos que sempre exploraram. Os abutres voam cada vez mais baixo e já não procuram disfarçar a sua condição de aves predadoras.

José António Saraiva é um arquitecto que nunca arquitectou nada. Nem uma casota para cão. Ainda bem para o cão. Não sei como, nem me interessa, armou-se em jornalista e assim ganha vida. Depois de sair do Expresso, fundou o Sol. Um fiasco. Falido vai sobrevivendo com dinheiro angolano, e fazendo o seu papel de tablóide semanal. Enfim,a vida custa a todos e cada qual ganha-a como pode.

Não se conhece ao arquitecto enquanto escritor qualquer obra relevante. No entanto, vai agora lançar um livro "Eu e os políticos" que segundo consta aborda a vida de alguns políticos na intimidade. O autor assume o papel de voyeur espreita pela fechadura e conta o que se passa no remanso da alcova. São várias as vitimas da devassa, umas vivas outras mortas. Diz quem teve acesso a esse big brother em versão letra de imprensa, que estamos perante uma abordagem degradante da vida alheia. Protagonismo e dinheiro, para si e para a sua editora, (Gradiva) são a razão ser da "porno chachada". Mas revela sobretudo a incapacidade do autor em firmar-se como um escritor sério.

António José Saraiva, pai deste "escrevedor" foi um grande estudioso da literatura. Deixou obra de relevo publicada,e hoje referência para o estudo da nossa literatura. Tem um percurso pautado pela competência, pelo rigor, pela inovação, pelo bom senso. Tem lugar garantido na história. Merece a minha gratidão e o meu respeito. Quem sai aos seus não degenera. Pelos vistos este filho da mãe (e do pai) degenerou.

   

A relação entre um cidadão que tem dinheiro nas contas dos amigos  e um certo juiz de instrução não é apenas uma relação jurídica. No comportamento e nas declarações  o juiz mostra um certo ódio visceral ao dito sujeito. Mandou prendê-lo à primeira oportunidade, manteve-o preso enquanto a lei o permitiu, considera-o culpado antes de ser acusado e de ser julgado.

Numa abordagem meramente especulativa, encontro a explicação para este ódio, nas razões que passo a descriminar: de acordo com os critérios de beleza ocidentais (subjectivos) o sujeito é bonito e elegante e o juiz é feio e gordo; o primeiro tem dinheiro para comprar uns ténis de marca, o juiz precisa de fazer horas extraordinárias para os pagar;  o outro ,passa férias em sítios paradisiacos e até as passou, recentemente um ano numa bonita cidade portuguesa à conta do Orçamento do Estado; o juiz não goza férias, nem na praia de Pedrouços. Trabalha, trabalha, trabalha. A bem da Nação. Já não há homens assim. Que seja abençoado. É a  melhor consolação.

O novo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa é, ao contrário do seu antecessor, um presidente popular. Muito afectivo, procura estar junto das populações numa espécie de presidência aberta permanente. Com o seu à vontade natural, desempenha este papel como peixe na água. Ao mesmo tempo revela um protagonismo frenético, pronunciando-se por tudo o que acontece ou não acontece, não sendo capaz de despir a pele de comentador que exerceu durante muitos anos.

Este novo modelo presidencial surpreendeu e foi bem recebido pela novidade.Mas passado o impacto inicial corre o risco de se tornar cansativo e desvalorizar a função presidencial. Como diz o ditado, a virtude está no meio e não nos extremos. A constante intervenção do Presidente em assuntos que não são da sua área, nomeadamente os da área da governação, pode tornar-de contraproducente. O excesso de protagonismo pode redundar em populismo.

O Presidente Marcelo é um homem inteligente, mas ao conseguir um cargo de elevado prestígio parece ter-se deslumbrado. De acordo com a sabedoria popular cada macaco deve estar no seu galho. E o Presidente que tem o seu lugar determinado, não deve continuar neste frenesim. Estar próximo do povo e dos seus problemas não significa que se porte como um bombeiro a acorrer a todos os fogos ao mesmo tempo. E não pode esquecer-se que já não é comentador. A postura de homem de estado exige mais recato. Passado o deslumbramento é tempo de moderação.