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Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

 


I A ocasião faz o ladrão
Romeu da Maia dirigia com eficiência a loja de eletrodomésticos, propriedade da família. Fruto proibido de uma relação contrariada da mãe, Eduarda da Maia, na juventude, nunca conhecera o pai biológico. O seu verdadeiro pai, que o educou e lhe abriu as portas da vida foi o marido da sua mãe, um empresário ligado ao grande comércio. Depois de ter regressado da guerra colonial onde se destacou como oficial miliciano, Romeu foi viver sozinho para um apartamento da periferia. No seu dia-a-dia despreocupado sentia contudo a falta de uma companhia feminina.
Em tempos, andara enrolado com uma colaboradora que o trocara por um comissário de bordo, cinquentão, que trabalhava numa empresa de aviação americana. Numa outra relação fora traído por uma escriturária da sua Companhia de Seguros que fora apanhada a sentar-se no colo do chefe de serviço. A promoção profissional ganhou-lhe aos pontos. Ainda chegou a ser abordado por uma quarentona divorciada, que o amassou num baile de fim de ano no velho Monumental, mas quando foi chamado a entrar ao serviço, acobardou-se, e deu de frosque.
Após várias desilusões amorosas, um dia igual a tantos outros mas tão diferente, embasbacou-se quando viu passar na frente da sua loja uma moça de fazer parar o trânsito. Foi paixão à primeira vista. Estava em pulgas para lhe chegar à fala, mas não arranjava maneira nem coragem. As más experiências pesavam como chumbo e manietavam-lhe a acção. Por mero acaso quando passava os olhos por uma página de um vespertino viu-se a ler anúncios de bruxas, videntes, astrólogos e outros vendedores de felicidade. "Se a sua vida anda enrolada, o professor Hórus dá-lhe a solução" ou " as cartas da menina Lobélia solucionam todos os problemas de amor" entre muitos outros. Romeu encheu-se de coragem e tomou a decisão: “vou consultar a cartomante."

Continua

A escritora Agustina Bessa Luís usou num dos seus romances que a história é uma ficção controlada. Completamente de acordo. Não é por acaso que a história está constantemente a ser reescrita. Mudam-se os tempos, sucedem-se as correntes historiográficas, alteram-se as ideologias dominantes e mudam as interpretações. Ora se dá mais importância aos heróis, ora se privilegia o papel do colectivo, ora se acentua a vertente política, ora se promove estrutura económica, ora se ignoram acontecimentos. Poder-se-á alegar que antes das interpretações estão os factos e que estes são incontestáveis. Não é verdade. Não há factos puros nem ingénuos. Os factos são criados por homens, reflectem subjectividade e parcialidade na melhor das hipóteses, pois muitas vezes são manipulados e falsificados. E quanto mais recuamos no tempo mais a efabulação se torna real. Toda a construção da história antes da escrita está alicerçada em indícios materiais sobre os quais se podem construir diversas fantasias. O que aconteceu realmente, ninguém sabe. Supõe-se. Até a explicação científica sobre a formação do universo levanta muitas interrogações. Se houve uma explosão inicial como se formou esse principio? Haverá um principio de principio? E por este caminho não chegaremos, em linguagem humana, a um beco sem saída? E se não podemos chegar ao princípio, como podemos imaginar um fim? Perguntas para as quais a limitada mente humana não tem respostas.

Do passado o que fica de objectivo é o conhecimento acumulado que usamos, nem sempre bem, no presente. Nesse sentido o passado dilui-se de forma quase imperceptível no nosso dia a dia, aquele que realmente vivemos.

Mesmo esse tempo a que chamamos futuro, não passa de um holograma do presente. Não passa de utra ficção que criamos na nossa mente de acordo com vivências, desejos, suposições. E invocar uma construção ficcional do passado para explicar o futuro, se não for intencional só pode ser ingenuidade. O retrocesso social do inicio do século XXI, por exemplo, era imprevisível na segunda metade do século XX. Pensava-se precisamente em sentido contrário. O que sabemos e sentimos de concreto é o que vivemos, segundo a segundo, porque a vida é presente, feito de pequenos nadas. A emoção do nascimento de um filho, a alegria da vitória do nosso clube, a tristeza de uma ausência. Um sucesso momentâneo, um fracasso repentino, uma discussão absurda. O canto de um pássaro na madrugada, o sabor doce de um fruto, o cheiro e a beleza de uma flor. A audição de uma música, a leitura de um poema, a fruição de de uma paisagem... E apesar do acaso que acompanha a vida, quero acreditar sem cientificidade e por simples intuição que a vida, como o cosmos têm um sentido. Nem sei qual, nem ninguém saberá. O que sei é que é bom viver, o que sei e acentuo é que a vida é feita de pequenos nadas. 

Portugal é um pequeno país com uma economia periférica e muito condicionada pelo contexto da economia global. O nosso país está inserido na União Europeia onde o crescimento tem sido muito anémico. É muito difícil para qualquer país crescer nestas circunstâncias. E todos sabemos que o crescimento económico é fundamental para se criar emprego e em consequência melhorar de forma sustentada o nível de vida da população. Este é o retrato algo simplista da situação económico social.

Profetas da desgraça como Medina Carreira usando o seu púlpito mediático bate sempre na mesma tecla: sem crescimento da economia não podemos viver nos moldes em que temos vivido. Nesta formulação pode ler-se que temos que empobrecer, ou seja é preciso cortar nas regalias sociais. Esta análise formalmente basista omite  e desconsidera factores que justificam uma realidade muito mais complexa.

Sendo certo que o país não cresce nunca ouvi ao aludido comentador uma única ideia que diga como se inverte a situação. Diz que é preciso captar investimento externo, mas não apresenta uma teoria coerente para o fazer, além de vagos "bitaites". Critica por criticar tendo sempre o mesmo objectivo que é o de castigar os que menos recebem na distribuição das mais-valias geradas pelo sistema produtivo.

Nunca vi nestas predicas alusão ao envolvimento da conjuntura europeia e mundial, do deslocamento dos investidores para zonas de mão-de-obra barata, do desinvestimento na inovação na última legislatura, da predominância da especulação em relação à produção aplicada pelo neo-liberalismo, da distribuição mais equitativa dos rendimentos, das restrições da própria UE em função da austeridade, e em oposição a uma política de desenvolvimento concertado de todas as economias do euro e dos Tratados que limitam as soberanias. Apenas o vejo martelar sempre na estafada tese de que os culpados são os assalariados e quiçá do governo que lhe dá algumas benesses. Portugal terá condições para crescer quando na UE se aliviar o espartilho austeritário que condiciona a liberdade dos seus membros e puderem concentrar esforços na modernização tecnológica.

MG

 

 

 

 

10 Jul, 2016

Campeões

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Portugal foi campeão europeu de futebol. Justamente. Um feito de grande valia. Todos estamos exultantes e emocionados. Vamos comemorar. Os bravos merecem condecoração.

 Tivemos duas campeãs nos europeus de atletismo: Sara Moreira na meia-maratona e Patrícia Mamona no triplo salto. Nos mesmo campeonatos ainda tivemos mais um primeiro lugar colectivo, uma medalha de prata e duas de bronze. passaram quase incógnitas na grande Comunicação e na comemoração das gentes.

O futebol, como desporto rei, atrai multidões e por isso tem mais visibilidade. Mas Senhor, os nossos campeões de outras modalidades, não merecem também um pouco da nossa atenção e da nossa gratidão? A suas vitórias  não são fruto de trabalho, de esforço, de orgulho nacional? Ou serão apenas filhos de um deus menor?

MG

PS: Telma Monteiro campeã em judo.Fomos, somos, e seremos sempre uma Nação Valente.

 

05 Jul, 2016

A Bela Adormecida

Confesso que tenho um vício incurável. Sou caidinho pela cidade Invicta. De tal modo, que sempre que posso e as forças o permitem, dou corda às tamanquinhas e lá vou dar de beber à dor da saudade. Depois de me instalar com armas e bagagens, vagabundeio, ao acaso, pela parte histórica. Entre os Clérigos e as Fontainhas, entre a Ribeira e a Trindade, deleito-me com a simpatia das gentes, os cheiros, as cores que dão à cidade a sua personalidade. Muitas vezes, dou por mim a subir à cosmopolita Santa Catarina cheia de desvairados idiomas. Aí entro no Majestic, para tomar um café, mas nem sempre, pois custa-me os olhos da cara, salvo seja, e eu não ganho em dólares. De quando em vez,  passo pela FNAC que não se integra na tipicidade da cidade, mas cumpre o seu papel de prestador de serviço cultural. Bem inserido no espírito da cidade está a livraria Lello, mas deixei de lá entrar desde que entrou no roteiro turístico, o que me obriga a aderir à fila de visitantes.

Na minha recente visita, e retomando o fio à meada, fui dar uma espreitadela na FNAC, nos livros que ali habitam e nas pessoas que neles vivem, ou que como eu, ali estão de passagem. Depois de uma olhada nas estantes, não pude deixar de reparar numa dama semideitada numa espécie de chaise longue, e numa pose que me pareceu adormecida. Conjugando o seu estado com a sua beleza logo me pareceu que podia estar perante a Bela Adormecida. A sua face, serena. até me fez lembrar a Aidinha da história de um tal Estripador da Régua que li em tempos idos. Comparações à parte, o certo é que, me senti com vontade de acordar a Bela moça, mas faltou-me a coragem. E se alguém duvidar  da plausibilidade da história, porque a princesa já foi acordada em devido tempo, lembro que está constantemente a dormir e a ser acordada no livro onde habita. daí que, pode sempre haver mais um remake.

O problema é que não encaixo no enredo, pois não nasci com a condição de príncipe, quer no espírito quer na forma. Sou talvez mais tipo sapo, também vitima de algum feitiço, e talvez precisasse de uma princesa que me transformasse num elegante personagem de novela. Logo achei a hipótese impossível, pois esta situação pertence a outra história. Reformulando, quem sabe se cruzando as duas, se achasse um consenso que beneficiasse ambas as partes, ou seja, eu acordava a Bela e uma vez acordada, a charmosa descobria o príncipe que há em mim. E assim viveríamos felizes. Nem precisava ser para sempre, porque se podia tornar aborrecido. Bastava ser nas vezes em que eu visitasse a cidade que escolheu o nome da nação, e que por isso. é padrinho e madrinha de todos nós. Assim se cumpria o conto de fadas.

Como não há Bela sem senão, não houve conto de fadas. Lamento. Enquanto alimentava a indecisão, tocou-me no ombro uma fada o lar, de que me tinha esquecido no meu devaneio e me interrompeu do sonho acordado. "Ala que se faz tarde". Contrariado deixei a Bela no seu sono e à espera do seu salvador. Quando voltar a Santa Catarina quem sabe se ainda ninguém a acordou, pois guardado está o bocado para quem o há-de comer. Para já, e para compensar, vou comer uma francesinha.

 

sem nome.pngimagem Net

 

Schauble e companhia tocam num nota só. Desviando as atenções dos seus problemas internas, com manobras de diversão, arranjam bodes expiatórios. E aí está toda a sua artilharia apontada a esses latinos de segunda que vivem na Ibéria, especialmente a Portugal. Utilizando máxima romana não se governam nem se deixam governar, aplicam a história do lobo e do cordeiro. O lobo mau, a Comissão, bem diz ao cordeirinho (costa) " sujaste-me a água que eu ia beber e não fazes parte do meu rebanho".Este replica "mas como se  estou a jusante?". Bom, reconsidera, "mas se não foste tu foi o tu antecessor e portanto vou-te devorar, sem apelo nem agravo". Fazem o seu papel, de acordo com a sua natureza de predadores, admitimos.

Agora o mais difícil de engolir é ver a ovelha da ex-pasta das Finanças, que foi tosquiada e ordenhada até ao tutano vir dizer "bem comigo não havia sanção". Ainda mais? Haja vergonha. Agora o que enoja é ver um carneiro e bem nutrido, vestido de jornalista e expert em economia, chamado António Costa, continuar a bater na mesma tecla das contas de merceeiro, a achar que sim senhor o lobo deve comer o cordeiro, porque este ousou dar umas migalhas a um pobre, quando devia continuar a tirar-lhe a pele. Para o dito indivíduo, a vida começa e acaba no deve e haver. Mas a verdade é que há vida para além da visão "costista", incluindo a sua. Moral da História: até o mundo dos animais está infestado de lacaios.