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Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

07 Nov, 2014

Palhaçadas

 

imagem net

Há quem lhe chame ironia. Há quem lhe chame humor de fino recorte. Discordo. Prefiro chamar-lhe palhaçada, sem ofensa para os palhaços profissionais. Já tínhamos um primeiro ministro que queria ser cantor, e não foi. Azar. Melhora fora. Agora temos um ministro da economia que faz tirocínio para clown. À falta de uma pista de circo usa o palco da casa da democracia, para mostrar os seus dotes de entretainer. Baixou o debate para o nível do chinelo. Equivocou-se. Aquele púlpito está destinado a debater coisas sérias com seriedade. A chicana política, inflacionada pelo tom chocarreiro, não deve caber naquele local. Desprestigia-o. Desrespeita-o. Por outro lado, este político, de um governo desacreditado, acha que por este caminho consegue embaraçar António Costa. Pela insistência no tema acha que consegue tirar-lhe uns votos. Conclusão: não temos um ministro da economia mas um "achista" pretensamente engraçado; o certo é que ganhou visibilidade. Pelo ridículo, mas ganhou. Talvez o senhor Chen o contrate. Nos tempos que correm precisamos de palhaçadas. Só que no sítio certo.

MG

De que valem as asneiras

Com que nos está a brindar

Se você não sai daqui

E temos que o aturar

 

Só vejo você no meu horizonte

Por mais que você para mim não conte

Eu quero que você, me esqueça neste inverno

E que vá com a sua turma pro inferno

 

Que me interessa que haja escola

Pra me fazer doutor

Se entro na sala

E não vejo lá professor

 

Para onde quer que vá, vejo tudo triste

E isso acontece, porque você existe

Eu quero que voçê baze neste inverno

E vá com sua trupe penar para o inferno

 

Não suporto mais a sua incompetência

E há muito que perdi, a minha paciência

Quero que você se mande neste inverno

E vá com sua gente pro inferno

 

Que me interessa que a justiça

Tenha uma ministra loira

E tenha uma assunção crista

A mandar na lavoira

 

Para onde quer que vá, não vejo julgamentos

Só vejo muitos nabos, montados em jumentos

Quero que você emigre neste inverno

E que leve consigo, a tralha pro inferno

 

A sua voz de tenor

A mim pouco me importa

Quero que vá pro inferno

Fazer duo com o portas

 

E quero que você vá de vez pro inferno

E que fique lá num belo sono eterno.

E quero que voçê se aqueça no inferno

e me deixe curtir o verão e o inverno.

 

02 Nov, 2014

O poeta solitário

Rita (nome fictício) entrou na sala de professores com um ar estranhamente afogueado. A professora na casa dos cinquenta dirigiu-se a uma colega com quem partilhava cumplicidades e entregou-lhe um pequeno e perfumado pedaço de papel. Encontrei-o no para brisas do carro, no estacionamento do pingo doce. (passe a publicidade que o unhas de fome do Jerónimo Martins não me paga nem um cêntimo furado) A colega solicitada leu um pequeno texto em letra de forma: 

 A MULHER É COMO O VINHO

 QUANDO TEM QUALIDADE

 SE TRATADA COM CARINHO

 MELHORA COM A IDADE

 

 OS MEUS OLHOS GANHAM BRILHO

 O MEU CORAÇÃO ACELERA

 MESMO QUE ARRANJE SARILHO

 ESTOU FIEL À SUA ESPERA

 

ADMIRADOR CONFESSO

DA SUA CALMA BELEZA

DE CORPO E ALMA ME OFEREÇO

 

E COM TODA A GENTILEZA

ESTOU CONVICTO QUE MEREÇO

SER SÚBDITO DE VOSSA ALTEZA

 

CONTACTE-ME: 9xxxxxxx

 

  

"Fiquei muito perturbada" disse a assim assim casada Rita, procurando controlar a emoção na voz. Vou-te fazer uma confidência de mulher para mulher: tenho as hormonas aos saltos de tal maneira, que até me cresceram as mamas. Depois de desabafar, Rita foi ganhando serenidade e procurou esquecer o incidente. Entretanto o acontecimento foi passando de boca em boca até ser conhecido por toda a comunidade docente. E de tal modo pegou nas mentes femininas, que os habituais cumprimentos foram substituídos entre o mulherio pela frase, "hoje já foste ao pingo doce?". E porque a língua portuguesa é muito traiçoeira as respostas variam de acordo com a protagonista. Assim uma trintona à toa na vida respondeu: já fui ao pingo doce mas continuo na amargura. Uma quarentona mal casada garantiu: já fui ao pingo doce toda empinocada mas ninguém me viu. Uma recentemente descasada que arranjou passarinho novo confessou: já lá fui (sem ter ido) e dei-me muito bem.Repito: a língua portuguesa é mesmo muito traiçoeira.

 

Tenho estado a matutar no desvario que vai na cabeça de tanta dama, e concluio que naquele parque de estacionamento, deve haver um  constante corropio. Até começo a ter pena do poeta sedutor. Com tanta oferta não vai ter mãos a medir, nem vai dar conta do recado. Em verdade garanto que estava a pensar reformar-me nessa área. Contudo, a minha costela solidária está-me a empurrar para o terreno a fim de ajudar o assorbebado sedutor. Não sei se sou poeta e sedutor, admito que seja mas pouco. Mesmo assim vou montar banca num pingo doce perto de si, para procurar dar resposta a tão prementes necessidades. De tal modo que já comecei a alinhavar uns versos adequados a diversas situações. Se aparecer uma com as medidas bem certinhas escreverei:

 

Nem a Vénus de Milo

em todo o seu esplendor

 exalava tanto estilo

e emanava tanto amor

 

Se a candidata for mais para as formas arredondadas arrisco:

 

 No dia mais luminoso

 ou na noite mais escura

 essas formas sinuosas

 são poemas de ternura

 levam um santo à loucura

 

Se tiver olhos azuis:

 

Olhos de grande beleza

que fazem lembrar o mar

e só tenho uma certeza

neles me quero afogar

 

Se tiver um jeito inseguro:

 

 Essa postura insegura

segura de formosura

esconde uma alma pura

Que precisa de ternura

  

Se tiver um aspecto algo deslavado:

 

Nem tudo o que brilha é ouro

em nada existe certeza

o mais famoso tesouro

pode não estar na beleza

 

Se for pouco avantajada:

 

A mulher e a petinga

têm o charme das rosas

podem ser bem pequeninas

mas até são mais cheirosas

 

E por aí fora. Terminarei sempre com esta quadra:

 

Eu não sou um pinga amor

sou um homem de respeito

e estou aqui com fervor

prá receber no meu peito

 

 

E pronto. Agora é só lançar o anzol e esperar que o peixe pique na minhoca, especialmente o esfomeado. Agora é só lançar a escada para socorrer as aflitas. Agora é semear e esperar que a fruta amadureça e me caia no regaço. Espero no entanto que a colheita não seja em excesso se não o feitiço  pode virar-se contra o feitiçeiro. E aí  vou-me arrepender por me meter onde não sou chamdo, só por causa da minha costela solidária. No princípio foi de uma costela solidária que nasceu a mulher, agora e neste caso pode lixar o homem.

 

MG

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