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Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

As eleições europeias puseram o dedo na ferida. A política de austeridade inventada em beneficio próprio pela actual troika do norte, em benefício próprio, está a conduzir a Europa para um abismo. Os países do sul empurrados para o empobrecimento, assumem o desânimo como forma de vida. A extrema direita galga terreno e ressuscita os demónios do racismo, excomungados no pós-guerra. O projecto da união europeia que deu corpo a décadas de prosperidade e de paz, está prisioneiro de concepções ultra-liberais retrógradas. O cada vez mais elevado número da abstenção, deixa a Europa à mercê de radicalismos de sentido contrário. Os partidos de poder ocupados por burocratas sem alma, estão nas mãos do mundo financeiro. Ou se arrepia caminho ou se entra num retrocesso civilizacional imprevisível.

 

Nós por cá todos bem. A alta abstenção comprova a indiferença. A dispersão de votos  mostra a falta de crença numa solução alternativa. O governo tem uma derrota significativa e assobia para o lado. O PS ganha mas perde as eleições. Não foi capaz de capitalizar o descontentamento. Seguro entra em triunfalismo irresponsável. Perdido no seu labirinto de irrealismo, põe o seu interesse pessoal acima do interesse nacional. Finalmente levantou-se Costa, o único na área da oposição capaz de mobilizar a descrença. Mas será capaz de derrubar as muralhas de um aparelho partidário dominado por pequenos poderes de yes mens? Para já barricaram-se na sua inconsciência. O que de melhor saiu destas eleições foi, na minha opinião, a revolta de Costa contra a liderança sem chama e sem ideias de Seguro. Começa, finalmente, a surgir uma esperança, que pode evitar cairmos num pântano político e numa vida de mediocridade sem perspectivas. .

 

MG

Porque é que te dei a minha mão

dinheiro talvez

nem eras a minha grande paixão

e bem o vês

foi um casamento de conveniência

mas que deu certo

tiveste comigo enorme paciência

no longo deserto

 

Não acreditas-te que te queria deixar

acarinhaste-me

e quando o homem do norte me quis levar

as mãos me untaste

eu aceitei com alegria tanta generosidade

 e muito agrado

pra compensar as economias que me levou

o banco privado

 

Estupidamente apaixonado

garanto que não é ganância

quero ficar sempre a teu lado

e já esqueci amor de infância

Estupidamente apaixonado

demorei mas dei-te um tri

não quero ir pra outro lado

sinto-me bem ao pé de ti

 

Eu sempre tive a mala feita

 bem recheada

mas não te faço essa desfeita

para nada

acredita no meu amor eterno

SLB

só dou o meu carinho terno

a você

 

Estupidamente apaixonado

consegues ser a minha luz

 reneguei o meu pecado

 e por amor sou Jesus

Estupidamente apaixonado

ai! como é louca esta paixão

nada me leva a outro lado

prendeste-me o meu coração

 

MG

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

17 Mai, 2014

Decepados

 

 

No tempo da escola salazarista não havia nenhum aluno que não conhecesse a história do Decepado. Duarte de Almeida, o Decepado, era apresentado como um exemplo de heroísmo, por ter arriscado a sua vida em prol dos valores pátrios. Numa batalha contra Castela, em que era porta-estandarte, resistiu ao inimigo até cair exangue. Para lhe tirarem a bandeira nacional cortaram-lhe a mão direita. Resistindo à dor conseguiu segurá-la com a esquerda que também foi decepada. Por fim, ainda teve força para a segurar com os dentes. E só a largou depois de numa última investida, do inimigo, cair esgotado. A bandeira acabou por ser recuperada por outro combatente, não sendo capturada pelos castelhanos. O que aconteceu a seguir já tem pouco significado, mas o facto é que Duarte de Almeida, muito ferido, acabou por sobreviver.

 

Hoje temos o país a ser atacado por forças menos nobres. São inimigos sem rosto ou com rosto sem vergonha. Perante a indiferença geral vão decepando a pouco e pouco a soberania. A nação que somos todos nós, com algumas excepções, está decepada nos direitos dos cidadãos que a constituem. E o mais irónico é que são os comandantes das nossas forças que nos põem o braço no cutelo. E ironicamente trazem a bandeira na lapela. A bandeira enquanto símbolo de independência está cativa. Estamos na lapela de decepadores. Sobreviveremos?

 

 

MG

Toda a semana foi de uma banalidade assustadora. Ouvi noticiários até enjoar. Li jornais e revistas para me informar. Vi debates até me cansar. Depois de tudo espremido não sobrou algo original ou até uma ideia interessante. Um autêntico vazio. Nem mesmo as boutades do primeiro-ministro me dão ânimo. Morder a língua com pieguice já deu o que tinha a dar. E aquela triste figura de ministros reunidos como uma turma de meninos que comemora a queima das fitas. Uma euforia sem limites. Mas afinal o que comemoram: a destruição da economia, o desemprego, a inserção dos mais altos impostos no livro dos recordes, o empobrecimento geral? Mas afinal riem de quê? Se calhar de todos nós. E o que é triste é que deixamos e até gostamos. Assim como se pode encontrar assunto e inspiração para escrever uma banal crónica?

 

Resta-me ir até ao Shopping para esquecer a frustração. Vê-se gente atarefada como formigas, mas sem consumir. O shopping funciona como a caverna platónica. Tomamos a fantasia por realidade. Vê-se gente feliz a passear a exibir interessantes toilettes. Crise? Qual crise? Ouvem-se conversas cruzadas. Ecoam sons de felicidade aparente. Namoradinhos a destilar ternura. Casais a disfarçar privados desentendimentos. Crianças felizes no seu papel de crianças. Poetas anónimos disfarçados de poetas anónimos (e como se pode descobrir os poetas escondidos em rostos comuns). Troca de olhares castanhos, azuis, verdes à procura de almas gémeas. Lojas, livrarias, livros: centenas de títulos, centenas de autores (à procura da imortalidade) amores, paixões, traições, sonhos, ilusões em quilos de páginas impressas. Curiosos (como eu) à procura de novidades. Leitores sem vergonha (eu nunca) a ler livros sem os comprar. Nem me consigo imaginar sem este mundo. O outro, o dos tele-evangelistas da desgraça  que se sentam à nossa mesa sem serem convidados já me enoja. Cambada. Rua!

 

Às vezes saiu-nos a taluda: cruzamo-nos com famosos das capas das revistas cor de rosa ou dos ecrãs televisivos e logo dizemos em surdina emocionada (somos mestres em indiscrição) “olha ali está  Fátima Lopes” (é uma anorética, na TV parece mais gorda) ou o Fernando Rosas (não parecia tão pequeno (e o meu ego aumenta). O que não aumenta é a qualidade deste texto . Uma semana de banalidades tem que acabar numa semana de banalidades. Se depois de mais de cem palavras não se consegue dizer nada, é melhor parar e atirar tudo para o lixo. Ou talvez não, para servir de exemplo do que é uma inutilidade.

 

MG

05 Mai, 2014

Sem saída

Com um voto entregamos a nossa vida nas mãos de um grupo de profissionais da política. Para o conseguir usam todas as técnicas da arte de convencer. A principal é a de dizer o que as pessoas gostam de ou vir. Depois, descrebilizam-se os adversários recorrendo a artifícios que nada têm a ver com ideias e propostas, mas com eventuais juízos de carácter. Para caçar o voto do indígena vale tudo. E o indígena acredita piamente. E em maioria decide não só a sua vida, mas a dos outros. Os que votaram e os que se demitem de o fazer dando azo a que, normalmente, uma minoria entregue o poder a gente sem respeito pelos cidadãos, os seus eleitores incluídos.

 

Esta gente que nos governa encaixa que nem uma luva neste retrato à lá minute. Chegaram ao poder montados em mentiras. Esqueceram no dia seguinte tudo o que disseram antes. Usaram a troika para aplicarem um programa de alteração de um modelo de sociedade que, com defeitos, se alicerçava na justiça social. Espezinharam direitos, retiraram regalias, dividiram para reinar. Em suma reduziram as pessoas a matéria de estatísticas.

 

Aproximam-se eleições. O discurso já mudou. As fácies do lobo mau deu lugar ao angélico cordeiro. O discurso é mais melado e cavalga a mentira sem vergonha. Aproveitando um ou outro factor insignificante, transformam a realidade numa ficção cujo título poderá ser "criámos o mundo perfeito". E cujo argumento se baseia na salvação da pátria num processo redentor. Mataram a bancarrota, venceram os adamastores da desgraça e estão a levar a bom porto a nau quase naufragada. Pura ilusão. A nau foi devastada, diminuída na capacidade de navegar, expurgada dos melhores marinheiros. O nome deste filme, quase de terror devia chamar-se a "leste do "paraíso".

 

Apesar das trombetas do êxito, do triunfalismo de pacotilha, da apropiação de alguns louros que não lhes pertencem, a chamada saída limpa é uma balela. Não há saída limpa porque nem sequer há saida. Com esta gente é mais do mesmo com outra maquilhagem. E tendo em conta a forma como armadilharam este presente quem vier a seguir terá dificuldades em mudar a curto prazo. A cenoura para enganar papalvos entrou em acção.

 

MG

 

01 Mai, 2014

Maio de apatia

A nossa vida é feita de símbolos. O 25 de Abril simboliza a liberdade de Portugal, o 1.º de Maio a luta dos trabalhadores por condições de trabalho e de vida dignos. Mas exceptuando um grupo cada vez mais restrito, estas datas são apenas mais um dia feriado. Vai-se à praia, passeia-se pelo campo ou pelos centros comerciais. Em suma, quando se banalizam datas importantes na construção de uma sociedade mais igualitária, corre-se  o risco de entregar o nosso presente,  nas mãos daqueles que se arvoram em condutores do nosso destino. E quando isso acontece, como nestes tempos, aceitamos que esses condutores, transportem a nossa vida para os tempos anteriores ao símbolo de libertação social que foi o primeiro de Maio. A atitude laxista perante a luta por um mundo mais justo, a acomodação ao status quo, podem levar-nos para uma situação anterior às conquistas de Maio. Simbolicamente até ao Maio da exploração e da indignidade.

 

MG