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Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

31 Dez, 2012

Nasceu um menino

Nasceu um menino

como  anunciado

sem maternidade

sem berço dourado,

numa manjedoura

se encontra deitado,

por reis adorado

por reis odiado.

Do homem nascido

na mulher gerado

com dor foi parido

 em palhas deitado,

José, o protege

o louva Maria,

a estrela cadente

dança de alegria.

Destino traçado

pregado na cruz

mas não derrotado

seu nome é Jesus,

nascido em Belém

para ser louvado

para sempre, amém

e trazer a esperança

ao ano que vem.

 

Dezembro 2012

 

MG

Dezembro 2012. A vida suspensa à espera do fim do mundo. Há que fazer um upgrade (estrangeirismo) antes que tudo acabe e enquanto há tempo. Revisito a infância. Banalidades indignas de relevo. Subo mais uns anos e paro na adolescência. Muitas recordações, apenas nostalgia. Tem que ser um regresso ao real. A ideia começa a ficar clara. Tenho de regressar à escola.

O plano é o seguinte: com a cumplicidade de companheiros de route (mais um estrangeirismo) vou ser matriculado numa turma do terceiro ciclo por uns breves dias. Há, contudo, naturais dificuldades. Primeira dificuldade: por mais que me esforce não sou propriamente teeneger (estrangeirismos perseguem-me); segunda dificuldade: como se justifica a queda numa turma no final do ano. A necessidade desenvolve o engenho e aí lembrei-me da minha menina do salão e beleza. Dito e feito. Sondei-a para um trabalho de renovação facial. Maquilhagem daqui, maquilhagem dali, fui sendo restaurado.  E não é que a competência da menina (por mais anos que viva não a esquecerei) me pôs mesmo jovem. O acaso muda o impossível e aí apareceu o circo no povoado. Nem mais, nem menos, estava encontrada a solução para o segundo problema. Ia ser um artista circense e aluno itinerante. Não podia ser mais perfeito.

Depois de esconder o abdómen com a ajuda de uma cinta, lá fui à primeira aula. Nome de guerra Santiago(está na moda) Royal. Fui recebido por cinquenta olhos curiosos na aula de português. Lia-se Camões lírico por entre um burburinho que não trazia das lembranças passadas. Resolvi intervir. Puxei dos galões de "sabichão"  de experiência feito. "amor é fogo que arde sem se ver" disse numa voz forte e bem timbrada. Silêncio repentino. Aproveitei a deixa e continuei a perorar sobre o bardo, num registo a puxar a um misto de humor e sentimento. A aula embrenhou-se no mundo camoniano. A setôra entrou no esquema e a aula foi um êxito.

No intervalo fui abordado, naturalmente, com conversas triviais  da idade da inocência(?). Uma garota mais atrevida perguntou-me a idade: -quantos anos me dás? interroguei. Olhou-me como a querer advinhar para além da aparência e respondeu: - dou-te dezasseis anos. Dezasseis a multiplicar por nx pensei , já concentrado na aula de matemática. Nada mal. Tinha passado no teste. Passei neste, mas não passei no das equações. Solicitado para ajudar a resolver uma equação de terceiro grau dei com os burrinhos na água. Nunca foi a minha praia. A setôra não me repreendeu e até me ajudou a limpar a folha com a minha situação de itinerância. De mim para mim pensei: este país não é para matemáticos.

Fui-me integrando com a ajuda da minha estirpe circense: uma longa família de artistas de renome, os Royal: um pai trapezista (quem não é nos tempos que correm?) uma mãe equilibrista e eu que já faço, às vezes, uns números de malabarismo.Verdade, verdadinha.(quem não os faz?) Comecei a  ter alguma popularidade, sobretudo entre as meninas. Algumas pediram-me e trocámos contactos por SMS. Tudo ia de vento em popa. Ia, até à malfadada aula de educação física. Começou a entornar-se o caldo. Apesar de estar a deitar os bofes pela boca ainda fui disfarçando. Quando a cinta se soltou com o esforço, consegui disfarçar encolhendo  a barriga. O pior foi quando comecei a transpirar e a maquilhagem começou a escorrer pela pele flácida, a destapar os papos dos olhos, a pôr a nu a papada caída.Quem te manda sapateiro a quereres tocar rabecão? Valeu-me, in extremis, o toque da campainha. Salvo pelo gong, pensei. Agarrei as últimas forças e fui saindo de fininho. No outro dia parti, com o circo para outra aventura, satisfeito por ter voltado a um sítio onde tinha sido jovem e feliz. E como o mundo não acabou, quem sabe se não adiro à galáxia do SMS e envio uma mensagem às meninas do 7.º C.

 

MG

 

 

27 Dez, 2012

Carta a Pedro II

Caro Pedro, porque bastante caro me estás a sair. Voltaste ao teu papel de cidadão, desceste do limbo ao vale de lágrimas que ajudaste a construir e  usaste o "correio" século XXI para carpir as tuas lágrimas. Comoveste-me. Mas deixa-me dizer como "amigo facebook" que essas são lágrimas de crocodilo. Primeiro aplicas a receita da austeridade a qualquer preço: baixas salários, cortas subsídios, crias desemprego, fomentas miséria. Todos( ou quase) te dizem que essa receita não está a resultar: baixa o consumo, baixa a produção, geram-se falências...menos poder de compra, menos consumo... É um ciclo vicioso que se devora a si próprio. Dizem mas não ouves. Continuas imperturbável nesse caminho errático. Empobrecer, empobrecer, empobrecer. Conduzir para o abismo uma nação secular.  

Caríssimo Pedro, estás a corroer-me as entranhas, a afogar-me num mar de desvario, a contaminar-me o ar que respiro com poluição de insensibilidade. E ainda tens lata para vir fazer o acto de contrição. Tiraste-me o Natal e o que é mais grave os outros trezentos e sessenta e quatro dias. Roubaste-me a esperança da juventude, hipotecaste-me a segurança da meia-idade, desrespeitaste os meus cabelos brancos. Feito lamechas choras sobre a desgraça que estás a criar. Fazes-me lembrar os versos de Chico Buarque (fado tropical): 

                                                                 "Sabe, no fundo eu sou um sentimental. Todos nós herdamos no sangue lusitano uma boa dosagem de lirismo ( além da sífilis, é claro). Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas em torturar, esganar, trucidar, o meu coração fecha os olhos e sinceramente chora..."

 "Meu coração tem um sereno jeito 

 E as minhas mãos o golpe duro e presto,

 De tal maneira que, depois de feito,

 Desencontrado, eu mesmo me contesto."

 

Com uma coisa tenho de concordar: Este não é o Natal que merecíamos. Este não é o governo que precisávamos. Este não é o país que os egrégios avós sonharam. Prometes um Natal melhor, mas não consigo levar-te a sério. Como se pode levar a sério quem abjurou todas as suas promessas. Como se pode levar a sério um moço de recados da grande Germânia? Como já te disse numa carta anterior, tu passarás e eu ficarei. Sempre assim foi há muitos séculos. Mas as mazelas que estás a causar, têm custos que vão para além do pão que estás a tirar. Recuperarei. Peço-te um favor: não voltes a contactar-me via facebook, mesmo que por essa via o ridículo seja norma. Ao menos ganha um pouco de pudor!

 

Zé Portugal

27 Dez, 2012

Remake

ponteeuropa.blogspot.com

 

 

 

Os tempos estão difíceis. A Europa da riqueza e da prosperidade passa por uma crise económica, mas também identitária e existencial. Acreditou-se que esta prosperidade, construída sobre o usufruto  de dois terços da riqueza mundial, por um terço dos cidadãos do mundo era eterna. Puro engano. O mundo  mudou. Os países da Ásia acordaram do seu longo adormecimento. Estão na luta pela repartição do bolo e as fatias são cada vez mais pequenas.

Por outro lado, a velha Europa deixou  a economia cair no liberalismo sem regras, na desregulação dos mercados financeiros, na ditadura dos especuladores e está num beco de difícil saída. As doença sente-se nos seus membros mais fracos mas atingirá todo o organismo se não for travada.

 

Eu já vi este filme noutros carnavais. Também o poderoso Império Romano se construíu sobre o expansionismo guerreiro, dominando todos os territórios à volta do Mediterrâneo. Baseou-se numa economia guerreira e esclavagista, onde a mão-de obra escrava, captada na guerra, garantia a produção de bens. Quando a expansão terminou e os escravos que asseguravam o trabalho começaram a escassear, começou a hecatombe. O consumo deixou de ser suportado pela produção e as condições de vida pioraram. Daí até  à instabilidade política  e à anarquia militar foi uma questão de tempo .O regime , incapaz de se adaptar à nova realidade, implodiu.

 

A Europa, salvaguardadas as devidas distâncias, corre um risco idêntico se não arrepiar caminho. Ou se constitui como um corpo unido e coeso do ponto de vista económico e político, considerando todas as nações,  como parceiros iguais e úteis para conseguir adaptar-se aos novos tempos. Ou envereda, como parece neste momento, pelo caminho da divisão, deixando os mais fracos à mercê da economia especulativa e hipoteca a sua sobrevivência. O que vejo, é os actuais dirigentes europeus a digladiar-se como os imperadores da fase final do império romano. O que vejo é que os europeus e especialmente a classe política  não aprendem com as lições da história. Pior, será que chegaram a aprender história?

 

MG

24 Dez, 2012

Presépio

jfalpedrinha.no.sapo.pt

 

O presépio é o símbolo que continuo a associar ao Natal. A árvore enfeitada, assim como o pai Natal, são tradições importadas do norte europeu e que não expressam o significado da Natividade. Este presépio tradicional de Alpedrinha significa o nascimento do menino Jesus no estábulo, ainda acompanhado pelos animais, agora dispensados por sua Santidade. Nem estes escaparam à voragem da crise. Seja como for, é nestes presépios que entronca o que considero verdadeiro espírito do Natal: o renascimento da esperança num mundo melhor para a humanidade.

 

Não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não há homem e mulher, porque todos sois um só em Cristo Jesus. (Gl 3, 27-28).

 

 

MG

23 Dez, 2012

Natal sem barreiras

Já se sente o frenesim do Natal do consumo. Nunca percebi o sentido desse frenesim. Há muito, muito tempo, era eu uma criança  o outro Natal, o religioso e pagão, era muito diferente. Numa longínqua  aldeia perdida, fazia-se um presépio colectivo, punha-se o sapatinho na chaminé e esperava-se que o menino nos trouxesse alguma lembrança, mesmo modesta, que os tempos mesmo para Jesus não eram fáceis. Quando era possível a avó matava uma galinha velha já pouco reprodutiva e um tio matava o "sovão" (porco gordo) com a ajuda da vizinhança e fazia um opíparo banquete. Nesse tempo, o Natal não tinha pai, nem sequer mãe. Hoje já tem pai mas continua continua órfão da dita. Mistério!

 

O Natal  do consumismo institucionalizou-se em dia de reunião da família alargada. Não compreedo que relação existe entre este Natal e a Natividade do Menino ou até a celebração do nascimento do Deus Sol que a antecedeu. Não compreendo porque razão a reunião da família tenha de ser uma obrigatoriedade, uma espécie de comportamento condicionado, em todos os dias 25 de Dezembro. Parece-me que colide com os princípio do  livre arbítrio pleno. Ou seja, quem não o fizer sente-se como apátrida familiar, quase um marginal. É esquisito que a família de todos os dias precise de um dia para mostrar que o é .

 

Quando era um adolescente vivia na capital do império (já sem império), num quarto alugado, longe da estrutura familiar base. A minha família eram aqueles que, por uma razão ou por outra, repartiam comigo o quotidiano. Mas no dia 25 de Dezembro, desapareciam como por magia. Quando optava por não me deslocar para a terra de origem, sentia que vivia num sítio estranho: percorria as ruas praticamente desertas, passava pelos cafés de neons apagados, olhava a montra de restaurantes sem cheiro, solidarizava-me com a iluminação natalícia triste por falta de olhares. Ouvia os passos dos sapatos no empedrado dos passeios, como um som emergindo de um silêncio de chumbo. Salvava-se aqui e além o gorjeio dos pássaros nas copas das árvores ,possivelmente também admirados com a falta do bulício citadino. Os autóctones aprisionavam-se nas suas mansões ou nos seus casebres. Até os indigentes sem lar, agora ditos sem abrigo, sumiam do espaço público, para à pala da caridade natalícia, comer uma refeição melhorada. Como se esse fosse o único dia em 365 vivido com dignidade. Era uma sensação estranha de domínio sobre uma cidade fantasma. Era uma sensação de vazio, de tédio de falta de calor humano.

 

Agora, passo o Natal, noblesse oblige, com a família nuclear e é o único dia do ano em que  continuo a sentir a minha liberdade coarctada. A civilização parece ter desaparecido. As ruas de qualquer lugar estão vazias de sentido, os carros(poucos)circulam envergonhados, o bulício próprio de um organismo vivo, esfuma-se. Tudo, dizem, vai cumprir esse ritual da Família de forma fechada, escondida, comendo bacalhau e couves, sempre bacalhau e couves ou outra ementa determinada, adorando uma árvore(?) coberta de pedaços de coisa nenhuma. Sei que tradições são tradições e que se colam à nossa pele, sub-repticiamente, sem sabermos bem como. Mas posso garantir que nem sempre assim foi. Ai que nostalgia dos tempos míticos em que as pessoas estavam na rua a jogar à malha ou nas tabernas a jogar chinquilho ou a beber copos de vinho. E o menino acabado de nascer e cansado de visitar tantas chaminés, dormia a sono solto nas quentes palhas de  um estábulo sempre aberto.

 

MG

 

PS  Um Bom Natal, com o seu verdadeiro espírito prolongado pelos dias dos dias.

22 Dez, 2012

Dia de Natal

 

Hoje é dia de ser bom.

 É dia de passar a mão pelo rosto das crianças,

de falar e de ouvir com mavioso tom,

de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.


É dia de pensar nos outros— coitadinhos— nos que padecem,

de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua miséria,

de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem,

de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria.

 
Comove tanta fraternidade universal.

 É só abrir o rádio e logo um coro de anjos,

como se de anjos fosse,

 numa toada doce,

de violas e banjos,

 Entoa gravemente um hino ao Criador.

E mal se extinguem os clamores plangentes,

a voz do locutor anuncia o melhor dos detergentes.

(Vossa Excelência verificou a hora exacta em que o Menino Jesus nasceu?

Não seja estúpido! Compre imediatamente um relógio de pulso antimagnético).


Torna-se difícil caminhar nas preciosas ruas.

Toda a gente se acotovela, se multiplica em gestos, esfuziante. 

Todos participam nas alegrias dos outros como se fossem suas

 e fazem adeuses enluvados aos bons amigos que passam mais distante.

 

António Gedeão (excerto)

21 Dez, 2012

O mundo acabou

Os Maias, acerca de quinhentos anos,sem telescópio, sem computador, com tecnologia rudimentar e cálculos manuais, previram o fim do mundo para o dia 21 de Dezembro de 2012. Arriscaram e falharam mas merecem compreensão. De facto, prever com exactidão, com tão reduzidos meios e num período tão longo era obra ciclópica. A mesma compreensão não merece o governo do país. Com alta tecnologia não acerta uma. Mesmo com as avançadas folhas excel erra na previsão diária mensal, trimestral... falha  no défice, na dívida, no desemprego.

A minha simpatia para com os Maias está na razão inversa da antipatia para com o governo. Enquanto a previsão Maia falhou mas beneficiou a economia, a do governo tendo falhado igualmente, só a prejudicou. Enquanto a previsão Maia  deu azo ao aumento da produção literária e cinematográfica com reflexos na dinamização do consumo e do emprego, as previsões erradas do governo apenas geram fecho de empresas e desemprego. E se mundo com as previsões Maias continua a girar, o governo acabou com o mundo em que vivemos nos últimos anos. Neste arremedo de mundo somos apenas espantalhos

 

MG  

 

21 Dez, 2012

Natal de menino

A prenda no sapatinho

de manhã na chaminé

era um acto de fé

e a esperança no carinho

de um menino como nós

Com pais, irmãos  e  avós.

 

Não havia pai natal

nem pinheiro iluminado

e  nem dinheiro emprestado

para comprar o consumo,

pois no pequeno sapato

só cabia o mais barato.

 

E Jesus não era rico

mas um pobre solidário ,

que cumpriu o seu fadário

e com justiça divina

deu a todos por igual,

sem razão comercial.

 

Nasceu numa manjedora

nas estrelas anunciado

com júbilo e com agrado,

para apontar o caminho.

E com grande devoção

Cumpriu a sua missão

 

De manhã na chaminé,

nem pinheiro iluminado,

mas um pobre solidário

e que num acto de fé

e sem dinheiro emprestado,

nos deixava o seu agrado

MG

 

 

 

20 Dez, 2012

Natal

 

Há um país

arrepiado,

encurralado ,

num continente

de hipocrisia.

Ele esbraceja ,

ele resiste

e fica triste

e faz o pino ,

num desatino

mostra serviço,

aperta o cinto.

mas não acalma

o predador!

 

E está sozinho

no seu caminho,

já condenado

a triste fado

mas afinal

que fez de mal?

E o menino

que vai nascer,

poderá ver?

Ou,

está distraido,

desentendido

indiferente,

ou,

vai resgatar

esse país

do encanto

dessa serpente

tão insolente?

 

MG

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