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Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

Ó tempo volta para trás

 

O Sócrates foi-se embora

Á vida para mim mudou

Esta cá  a troika agora

E quase tudo me tirou

 

As horas são como dias

As horas são como dias

Os dias são como anos

Já só resta a saudade

Já só resta a saudade

Depois de tantos enganos

 

Refrão

Ó tempo volta para trás

Traz de volta o que perdi

Tem pena e leva contigo

A Merkle e o Sarkozi

Como levaste o Mourão

Ó tempo volta para trás

Ao tempo da vida sã

E traz o Sócrates de volta

No nevoeiro da manhã

E traz o Sócrates de volta

 

 

No nevoeiro da manhã

 

Porque será que o Coelho

E a troika são tão iguais

Porque será que a troika

Quando vem não se vai mais

Mas para mim o Sócrates

Mas para mim o Sócrates

É o eco do PEC quatro

E ainda estou à espera

E ainda estou à espera

Que ele volte pois estou farto.

 

Mg

Este parêntesis não está fácil. Deu-me uma estranha apatia (sem explicação) mas perfeitamente inserida na apatia geral que domina o país. Foi aí que algo me disse: reage rapaz (rapaz é apenas uma força de expressão) e aproveita o dia e este sol radioso, esta luz fantástica, dá corda aos calcantes, enfia a boina basca para dar estilo (embora feita na bela Galiza) e usufrui desta bênção da natureza. É isso mesmo, de apáticos (e talvez até de  incompetentes) está o governo cheio e não me quero confundir com essa gente. Atirei-me então à liberdade das ruas, à beleza da arquitectura, à leveza da fumaça diesel dos carros apressados, mas por pouco tempo. Uma brisa discreta  que me fez lembrar Rui Veloso (para mim hoje é Janeiro está um frio de rachar) começou a enregelar-me e aí sem mais nem porquê vi-me no ambiente acolhedor de um Corte Inglês (assim não podem dizer que é publicidade).

 

Ainda pastei os olhos pelos livros, ainda me cruzei, fugazmente, com a Anatomia dos Mártires de João de Tordo (com a martirizarão colectiva que para aí vai não é aconselhável) mas a minha atenção prendeu-se nos cartazes dos filmes em exibição. Perdido por cem perdido por mil. Porque não acabar o dia no escurinho de uma sala de cinema embrenhado no mundo das ilusões (o real só nos traz tristezas). Começa então a angústia de escolher a fita entre tanta oferta. Estive vai não vai a ir à "minha semana com Marilyn" o  que até  não seria mau, mas pouco provável ( numa próxima encarnação tendo ela recuperado aquela beleza inocente e sendo eu premiado com um embrulho mais atraente, quem sabe) . Depois ainda me entusiasmei pela "gruta dos sonhos" (convém esclarecer que não é sobre erotismo, mas sobre um passado longínquo e preso nas paredes de uma gruta) mas seria mergulhar no tempo mítico da pré-história quando a humanidade ainda dava os primeiros passos na aquisição da inteligência( e como há muitas parecenças com os dias que correm não me pareceu adequado).  

Adiante que se faz tarde e tenho de acabar esta crónica. Acabei a ver "Ano novo, vida nova, comédia romântica que é uma celebração do amor, o perdão, a esperança, as segundas oportunidades e os recomeços, em histórias entrelaçadas de casais e de solteiros" (coisas que só acontecem no cinema, graças a Deus). Diverti-me, apesar de não conseguir ver a história plenamente. Acontece que à minha frente estava um casalinho de roedores de pipocas, mais interessados nas ditas e em trocar mimos, do que  em ver o que se passava no ecrã. Houve até uma altura, em que os seus braços se descoordenaram, choveram pipocas pela sala e por pouco não fui atingido( pelas pipocas, não pelos mimos (isso enfim)). "En fim" um espectáculo dentro do espectáculo. Até foi bem feito, por acreditar em sugestões de "algo" e não ficar na doce apatia do lar. Estava escrito que este seria um parêntesis difícil e ninguém foge ao seu destino.

MG

 

 

O ministro Álvaro não para de surpreender. Primeiro surpreendia pelo mutismo, e pela inércia (que saudade). Agora surpreende pelas suas supimpas invenções para o atraso estrutural da nossa economia. Há dias descobriu que a solução estava na exportação do pastel de nata. Depois conseguiu reduzir as férias e facilitar os despedimentos. Agora vai diminuir os feriados. E a seguir vai proibir os domingos? O homem sofre do síndrome chinês. Se o trabalhador estiver cansado não lhe dês descanso, dá-lhe mais trabalho. Assim se aumentará a produção e crescerá a riqueza nacional. E sobre o aumento da produtividade? Népia. E sobre a modernização tecnológica? Nix. E sobre a eficiência da gestão? Rien. E sobre a melhoria da competitividade? Niente. Tudo se resume a mais trabalho, mais trabalho. Este homem em que século vive?

 

Ps- Ninguém diz à criatura (que deve ter sido reprovado em história de Portugal) que os feriados de acontecimentos históricos possuem para além de um espaço de lazer (fundamental para o equilíbrio psicológico) um significado simbólico, importante para a coesão nacional. E quando é que alguém lança um referendo sobre tão importante questão.

 

Mg

Não tenho dúvidas só tenho certezas: a maioria dos pensionistas ganha menos de quinhentos euros, muitos ganham menos de mil euros para sobreviver e ainda prescindem de subsídios para ajudar o país; houve pensionistas  a quem o governo retirou, euros às suas magras reformas; Cavaco recebe cerca de  dez mil euros e diz que está endividado. Só há uma explicação: o senhor Presidente encontrou a solução para tirar o país do desânimo em que se encontra: ultrapassar os humoristas pela esquerda para pôr a nação a rir. E não é que conseguiu? Neste momento quem se lembra da crise? Obrigado senhor Presidente por tirar Portugal do buraco. Portugal vai retribuir...vamos tirar do buraco o pensionista Cavaco!

MG

 

Foi uma semana dura. E quando a coisa parecia compor-se com a assinatura do Acordo para a Exploração com o homem dos pastéis, cai-nos em cima a situação preocupante do nosso Presidente da República: uma reformazinha de alguns milhares de euros que não dão para as despesas, apesar de usufruir de cama, mesa e roupa lavada. Para não me angustiar mais, para a semana penso nisso. Como hoje é Domingo vou fazer um parêntesis e aproveitar este abençoado dia de Sol. Porque já dei muito para esse peditório, nem amarrado me apanham num Shopping,. nem numa livraria( e livros, népia e escritores, puf). Vou mesmo é respirar ar livre (já que ar puro é conversa)

Ao acaso vi-me na baixa de Lisboa a calcorrear as calçadas do Chiado. Aproveitei até para me encontrar com a minha amiga Lu (ex-colega de curso e quase conterrânea quanto ao local de origem). Encontramo-nos sempre em Janeiro, para trocar as prendas de Natal (nunca percebi porquê). Quando cheguei à esplanada da Brasileira já lá estava a Lu com o seu cabelo prateado de cor natural (parece que é agora moda entre as jovens pratearem-no) e com  o seu ar doutoral ( com toda a propriedade pois doutorou-se  nos poderes na velha Assíria). Sentei-me, bebemos um café, pusemos a conversa em dia (falamos da vida, da crise, da família…). Insignificâncias.

Entretanto o meu olhar e a minha mente desviaram-se para uma figura silenciosa de óculos redondos e bigode, sentado numa mesa ao lado. Mas de onde é que o conheço, pensei, enquanto a Lu continuava a arengar. Pois claro que o conheço, é o Pessoa, sem tirar nem pôr. Pensamento não era concluído, já se sentava numa cadeira ao seu lado, uma turista de calção e t-shirt e com umas grandes tranças louras. Tirada a foto para sempre recordar, outra se sentou perante o ar impávido do nosso bardo, no seu corpo de pesado e eterno bronze. E se na sua mensagem foi capaz de profetizar Portugal,

 

NEVOEIRO

Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,

Define com perfil e ser

Este fulgor baço da terra

Que é Portugal a entristecer –

Brilho sem luz e sem arder,

Como o que o fogo-fatuo encerra. 

Ninguem sabe que coisa quere.

Ninguem conhece que alma tem,

Nem o que é mal nem o que é bem.

(Que ancia distante perto chora?)

Tudo é incerto e derradeiro.

Tudo é disperso, nada é inteiro.

Ó Portugal, hoje és nevoeiro... 

É a Hora!

 

nunca imaginou esta função de modelo fotográfico ao lado de tantas Ofélias, que só gozou em espírito quando vivia num corpo de carne e osso. É a hora disse, desenquadrado da conversa, perante o espanto da Lu: é o quê? É a hora, disse voltando à realidade, de trocarmos as prendas, antes que nos proíbam o Natal.

20 Jan, 2012

Pastel de Belém

Andava um país à toa

Pra poder sobreviver,

Quando uma trombeta soa

A dizer o que fazer.

Numa bandeja de prata

Com bela decoração,

Vai o pastel de nata

Pra uma nova expansão.

E pra coisa ter um fim

Perfeito como convém,

Casa a bola de Berlim

Com o pastel de Belém.

E quem foi o criador

De tanta sabedoria

Foi o grande professor

O Álvaro da economia.

 

MG

18 Jan, 2012

Pátria

Categoria: poesia

 

O Porto é um rapaz

Lisboa é uma menina

Contra ventos e marés

Cumpriram a sua sina.

Em Coimbra junto às sés

Juraram amor eterno

Tal como Pedro e Inês

 

Depois?

Depois, nasceu Portugal

Menino tão desejado

Quanto proscrito e odiado

Por Castela e pela  mourama;

Mas como cantou Camões

Foi além da Taprobana

 

E cresceu fez-se rapaz

Aventureiro e audaz

Navegou nas caravelas

Por mares desconhecidos;

Venceu os Adamastores

Conheceu muitos amores

 com mulheres de muitas cores.

 

Foi grande conquistador

Da cruz sempre servidor

Mil vezes naufragou

Mil vezes se salvou;

Corsário, pirata, ladrão

Construiu uma nação

 

Nação livre sem fronteiras

Do Bojador a Damão

Em cada povo um irmão

Em cada terra igualdade;

Fez da miscigenação

Uma marca distintiva

De enorme comunidade.

 

Abriu as portas do mundo

Uniu culturas e povos

No seu jeito vagabundo

Regressou a terra mãe

Com uma grande certeza:

Que a sua pátria é eterna

É a língua portuguesa

 

oindefectivel.blogspot.com

 

Na fábula/metáfora de George Orwell, o Triunfo dos porcos, faz-se uma crítica aos regimes ditatoriais e mais especificamente  ao grande ditador Estaline. No tempo em que Orwell escreveu esta ficção, a ameaça número 1 às democracias ocidentais eram os regimes comunistas. Daí o estabelecimento da guerra fria que manteve o mundo em paz (com excepção de alguns conflitos regionais) durante cerca de meio século. Este inimigo ,estava referenciado e tinha rosto. O maior inimigo do regime democrático nos tempos que correm é muito mais subtil. Não tem cara visível, nem ideologia. Esconde-se atrás de entidades abstractas designadas mercados ou agências de rating. É manhoso, desumano e cruel. Não respeita valores, nem direitos humanos, nem regimes. Só lhe interessa o lucro a qualquer preço. É a maior ameaça à democracia. É  um novo triunfo dos porcos, um verdadeiro perigo que precisa de ser atirado, rapidamente para o caixote do lixo da história, porque este sim é verdadeiro lixo.

 

MG

 

 

Não tenho emenda. Mesmo depois de justamente "admoestado" fui, novamente enfiar-me num Shopping. Mas ao menos tenho a atenuante de que estava a chover. E como não podia deixar de ser enfiei-me numa livraria (do mal o menos) que não vou nomear ( para não fazer publicidade).Como ando a descobrir o grande escritor brasileiro Ruben Fonseca (mea culpa, mas há tantos para descobrir) agarrei no seu romance intitulado "O seminarista" (merece divulgação) e sentei-me a folheá-lo. Achei o título curioso, porque por cá nós também tivemos um seminarista que nos governou cerca de quarenta anos e ainda me torrou a paciência. Comecei a ler o livro do Ruben ( a escrita dá-nos  estas liberdades de tratamento) apercebi-me que o personagem principal, designado como o Especialista se assumia como matador profissional e nos ia contando como despachou alguns sujeitos a troco de bom pagamento. Mas dizia ele, o matador, que eram todos tipos ruins  e o certo é que este ex-seminarista nunca tratou mal nenhuma das avezinhas do céu. Achei então que tinha muitas semelhanças com o nosso seminarista que também deu carta branca aos seus algozes para tratar da saúde aos perturbadores da sua ordem. Tudo a bem da nação. Não sei se gostava das aves do céu, mas sei que protegia as da terra, pois consta que criava galinhas no quintal do palácio do governo.

Entretanto, sentaram-se ao meu lado, à direita e à esquerda, duas damas jovens e bem apresentadas. Ainda trocámos uns olhares ocasionais e fugazes (sem qualquer intenção acho) e voltámos a embrenhar-nos nas nossas leituras. A esta altura já o Especialista tinha acumulado um bom pé de meia e podia dedicar-se às suas paixões, a poesia e as mulheres, tendo até começado um relacionamento sério com uma jovem de nome "Kristner" que parecia transportar para a acção algum mistério. Voltei a trocar olhares menos fugazes (não tem mal),com as damas, mas antes de começar a pensar coisas lembrei-me que já não sou nada jovem (a não ser em espírito) e que a natureza ingrata não me dotou com um corpo de Adónis, olhos azuis e cabelo louro com reflexos vermelhos ou com a pinta de um actor dos anos 50 (Gregory Peck, por exemplo) ou até com o charme do homem da nespresso-1(publicidade assumida). Antes pelo contrário, pensei, sou mais tipo Sarkozy, Berlusconi (salvo seja) ou Dustin Hoffman ( num registo cinéfilo). Para não haver tentações estava na hora de zarpar e devolver o livro ao seu repouso. Mas hei-de voltar, pois estou mortinho por saber como vai o Ruben tratar o seminarista (o nosso já não incomoda). Com bom ou mau tempo hei-de ir a uma livraria de rua (quem sabe se a Lello). E porque hoje é domingo está na hora de ir ver futebol(Braga -Sporting para acabar em alta). Sim, porque amanhã volta a apagada e vil tristeza, com comentadores a chamarem-me preguiçoso e gastador e as agências de vigarice(chamadas de rating) a dizer que sou lixo.

MG

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