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Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

resistenciademocraticabr.blogspot.com

 

O poder do povo não existe nem nunca existiu. O que existiu e às vezes existe é a ilusão do poder. O que hoje se passa na Grécia ou se tem passado ultimamente nos países árabes, são exemplos desta afirmação. E mesmo em períodos de normalidade democrática, o poder popular começa e acaba no dia das eleições. Escasso poder, que só volta a exercer-se muitos anos depois. Até lá, foi delegado num grupo de indivíduos  que o exercem de acordo os seus interesses ideológicos ou económicos.

Já em períodos de fraqueza do poder político e de grande agitação social, como a que se vive na Europa, o povo ousa vir para a rua e pôr em causa a ordem vigente. Gera-se então um período de anarquia em que as massas desobedecem às leis do Estado criando a sensação que podem comandar os acontecimentos. Não passa de um desvario ilusório, porque mesmo que consigam derrubar os políticos nunca derrubam o poder. Este, após a fase anárquica, acabará por cair noutras mãos, que legitimadas pela necessidade de repor a ordem, tomarão medidas draconianas para garantir a segurança dos cidadãos. Começaram assim muitas ditaduras. 

O desconhecimento das lições da História e o desespero, são o caldo de cultura onde chafurdam os salvadores da pátria à espera de uma oportunidade. E mais grave que a ignorância e a irracionalidade do povo, é a inconsciência e a incompetência dos políticos que nos governam, sobretudo quando lhes falta uma visão global e solidária da governação.

 

MG

 

Fascículo I-Noite de terror e alegria

 

A noite em que ia nascer António Simplesmente, ficará na memória do povo de Oliveira do Dão como o princípio do apocalipse. Ao cair da tarde, daquele dia de Abril de 1889 pesadas nuvens de chumbo começaram a levantar-se para os lado de Montemuro. Com grande rapidez e empurradas por um vento uivante e gélido pararam ameaçadoras sobre a pequena e laboriosa aldeia beirã de Oliveira do Dão. Ao caír da noite, a tempestade anunciada começou o seu espectáculo de luz e som. Feixes faiscantes cruzaram o horizonte, ribombaram assustadores trovões, do céu caiu uma chuva que rapidamente transformou ruas em rios caudalosos. Parecia que os elementos mais trágicos da natureza se tinham reunido para se vangloriarem pelo menino tão esperado por aquele família humilde.

 

O pai do esperado nascituro, Zé da Avó, feitor das terras dos fidalgotes da terra, apercebeu-se da borrasca e mandou os criados de manjedoura recolher o gado, guardar em lugar seguro as alfaias agrícolas e dispensou-os a tempo de serem atingidos pelo temporal que pesava nas suas cabeças.

-Metam o gado nas arramadas e recolham-se em sitio seguro, pois isto está a ficar feio.

 

Zé assim que acabou de tomar as providências, saiu apressado da Úmbria dos soitos ainda a noite não se levantara. Ao chegar ao povoado começou a cair uma chuva que martelava o tosco empedrado das ruas sem piedade. O feitor era um homem simples que fora enjeitado pela mãe, depois desta ter sido escorraçada como cão sarnento pelo pai, por ter parido sem se lhe conhecer qualquer conversado. Foi criado pela avó, que o ensinou a ser um homem às direitas. Da mãe, sumida no mundo, nunca mais houve notícias e nem sequer se podia pronunciar o seu nome. 

Quando chegou às portas da aldeia o céu caiu-lhe em cima. Um rio vertical de água, fogo e sons estereofónicos quase o arrastavam para as profundezas do inferno. Lutador habituado a fintar as agruras da vida, estugou o passo mas sentia as pernas prisioneiros de forças telúricas que  queriam absorver o seu corpo alto e esguio. Encharcado da cabeça aos pés, arrastou-se com dificuldade envolvido por raios que quase o trespassavam. Quando puxou a taramela da porta de pinho do casebre onde pernoitava, já as quatro filhas, cujas silhuetas fantasmagóricas se projectavam na parede caiada eetavam prostradas em frente da lareira e invocavam numa lamúria sem fim os préstimos de Santa Bárbara.

 

O filho que ia nascer, esperava tranquilo na barriga da mãe, Maria Simplesmente. Indiferente, ou talvez não, ao desconcerto da natureza, continuava tranquilo e sem pressa de entrar no mundo que o reclamava. As águas que o envolveram espraiavam-se pelos lençóis de linho duro, onde a sua mãe se contorcia com dores a cada convulsão, ansiosa pelo desenlace. D. Sebastianina que assistira a tantos parimentos como cabelos tinha na cabeça, preparava um alguidar com água quente, enquanto animava a parturiente:-está quase Maria, só mais um esforcinho.

Maria Simplesmente era feita de outra massa. Tinha na sua ascendência gente de estatuto. Sabe-se de um capitão e até de um médico de província. A família entrou em caminho descendente mas a fina linhagem expressa nos genes continuou presente. Deram-lhe uma educação esmerada e chegou a ser regente escolar. O casamento com Zé da Avó foi uma paixão assolapada, tipo camiliano. Na modéstia e na pobreza o casal era feliz e para a felicidade ser completa, apenas lhe faltava um filho.

 

Zé d´Avó, mal entrou no aconchego do casebre, escarrapachou-se na panela trempe, que aquecida a mato, cozia o caldo de couves do jantar, procurando secar as roupas empapadas que escorriam água para o lajedo do chão, lhe enregelavam o corpo. Ainda não se tinha recomposto do susto, nem encontrado lucidez para perguntar pela mulher em vias de parir quando D. Sebastianina saiu do quarto com um recem nascido nos braços. Da toalha escura onde vinha embrulhado escorregavam uns alvos pezinhos. Zé aproximou-se emocionado...que diabo, afinal era o varão da família que acabara de chegar. Uma alegria breve invadiu Zé d`Avó porque dee repente rodopiou nos tacões cardados das botas e escondeu a cara entre as mãos. As filhas, com licença de Santa Bárbara, aproximaram-se do pai. Duas grossas lágrimas como rios incontroláveis corriam-lhe pelas rugas e serpenteavam entre os pelos barba mal semeada. Cerrou os punhos e disse: -Maldição! o moço tem um pé de cabra. Sebastianina serena e confiante procurou acalmar Zé, -não se amofine com esse pormenor. Tem aqui um rapagão que vai dar muito que falar e até muito que calar, digo-lhe eu sem medo de errar, pois só os predestinados é que falam na barriga da mãe. E este, ouviu-o eu, com estes dois que da terra são. Quem viver verá. Será António um infeliz aleijado ou um génio salvador?

 

28 Jun, 2011

Rua da Saudade

 

Tanto tempo e tempo nenhum. Ary dos Santos 25 anos depois tem a mesma juventude, a mesma irreverência, a mesma  actualidade. Quem tem  o dom de dançar com as palavras todas as danças, de olhar o mundo com sensibilidade e bom gosto, não nasce, nem morre. É imortal, mesmo quando habita na Rua da Saudade:

 

 

 

 

Álvaro

 

Hoje conheci o Álvaro. E a pergunta que bate desordenada no pensamento é: mas quem é o Álvaro? Não é o Cunhal certamente, por impossibilidade física e porque era conhecido como "camarada". Também não é o Barreto possivelmente, porque era conhecido por "senhor ministro". Trata-se de Álvaro simplesmente, um indivíduo que andava ufaníssimo a inaugurar a feira Internacional de Artesanato e que a comunicação social dizia ser o super ministro da economia lda. "não me chamem ministro, chamem-me Álvaro".

 

Se isto pega, se transita em julgado, já estou a ver-me dizer ao meu médico "então Chico o que me vais receitar?" ou à Directora de Turma "ó Genoveva, não são faltas a mais? ou ao Presidente da Autarquia que nunca vi mais gordo, "caramba Eleutério estava a ver que não me recebias!"

 

Ou o mundo mudou muito numa semana ou eu devo estar a ficar careta.

 

MG

 

 

22 Jun, 2011

Carrossel da vida

anamoradadewittgenstein.blogspot.com

 

Nas feiras da minha infância havia sempre um carrossel. Ciclicamente, todos os anos, voltava com a mesma alegria, emitindo pela roufenha instalação sonora canções em voga.

 

Começou oficialmente o verão, que como os carrosséis da época de todos os sonhos, volta impreterivelmente todos ano após ano no solstício de verão. A estação estival, transporta consigo a luz que nos liberta dos soturnos dias invernosos, frios, escuros, breves. Dá-nos sensações de plenitude, de libertação, de renascimento. É tempo de férias, de soltar as carnes oprimidas das amarras do pudico vestuário. É tempo de nudez controlada, de plasmar o corpo na cálidas praias, absorvendo sofregamente os raios solares. É tempo de libertar o espírito da depressão nórdica, da caverna platónica e mergulhar na realidade irreal de mundo ideal.

 

O mundo ideal da irrealidade que o verão expressa é leve, breve e volátil, Passa ao ritmo da estadia das andorinhas, mas cria a ilusão que é eterno porque volta sempre com pontualidade britânica. Um após outro, num ciclo de infinitude, o verão é o carrossel da vida: "nova corrida, nova viagem".

No sobe e desce, na lufa, lufa, no rodar vertiginoso, distrai-nos da marcha natural do tempo, de que só nos apercebemos quando um dia olhamos o espelho e a notamos cravada nas rugas que cavam o rosto. E o carrossel continua imparável:"nova corrida , nova viagem", a vida é uma miragem, a vida é uma passagem para outra margem.

 

MG

 

 

 

soturnaprimavera.blogspot.com

 

São algo sombrios os tempos que correm. Depois de anos de euforia e crença numa sociedade de bem-estar consistente e indestrutível, a descrença começa a campear. Os filhos da sociedade do ter como meta infinita são os primeiros a mostrar a sua indignação pela brecha que começa a abalar o dique da felicidade eterna. O evoluir das sociedades é um permanente processo de fluxos e refluxos. Caíram civilizações quase inexpugnáveis, mas outras se levantaram. Estes tempos de pessimismo não são mais de que uma fase de transição para outro patamar com reflexos mais ou menos dolorosos. E a seguir ao desajuste virá um novo ajuste com a esperança de um novo paraíso terreno.

 

Assim foi, assim é e assim será enquanto o homem procurar construír a felicidade nas coisas materiais. A saída deste ciclo vicioso está fora do paradigma do ter como objectivo primordial. O caminho encontra-se na procura do ser, no despertar da sensibilidade, na simbiose com o eu. O caminhar da humanidade terá menos sobressaltos quando conciliar o ter com o ser. Até lá viajará em círculos concêntricos que a ilusão da tecnologia elegerá como progresso. Mas o verdadeiro progresso continuará arredado da caminhada.

 

MG  

menagerie.helenabarbas.net

 

 Na próxima semana vai tomar posse o governo resultante das últimas eleições legislativas. Sabemos qual a sua constituição, mas falta saber qual o seu programa. Em muitas áreas aplicará  inevitavelmente o programa da troika. Noutras prevê-se uma governação mais liberal, com medidas que limitarão o estado social. Deseja-se ao menos que não o destruam.

 

 Aqueles que focaram toda a campanha, na responsabilização da situação do país, apenas à acção do governo em funções, vão agora mudar de discurso e referir a influência da crise internacional, no condicionamento e evolução das suas políticas. Na governação como na vida não há soluções mágicas, nem pessoas providenciais. A política é a arte do possível, de acordo com conjunturas e contextos. E na conjuntura que passamos, governar não vai ser fácil. Desde que regressou a democracia, não tenho memória de nenhum governo de direita ter governado em tempo de vacas magras. Será curioso constatar, como vão agora actuar, os que os endividaram o país, mesmo quando o dinheiro corria por uma telha. 

 

Tenho ouvido dizer que o novo governo não pode errar. Disparate. O erro faz parte da natureza humana. E apesar de tudo, considero que estes ministros não são extraterrestres. Irão errar como todos os outros e temos de considerar isso natural. Caso contrário teríamos regressado todos ao mitológico paraíso terreno onde pelos vistos a vida era uma pasmaceira.

 

MG

coloridonet.blogspot.com

 

Conta-se que havia um escorpião que queria atravessar um rio. Como não sabia nadar pediu a uma rã para o transportar para a outra margem. A rã , receosa terá argumentado: "mas como posso ter a garantia que não me matas, durante a travessia?" Nunca acontecerá porque eu morreria afogado, respondeu o escorpião. Então vamos lá, disse a rã. A meio do rio o escorpião picou a rã, tendo-se ambos afundado.

fábulas

 

 

Não consigo compreender racionalmente o comportamento dos mercados agiotas. Entendo que  queiram ganhar cada vez mais à conta dos pobres endividados e que utilizem todas as armas, como agências de rating, para aumentar extorsão. É da sua natureza. Já não consigo entender que estejam a destruir a fonte que alimenta a sua ganância. É dos manuais que quando levarem os endividados à falência, não resta mais nada onde sacar. E o agiotas serão arrastados para o mesmo abismo. Será que foram contaminados pela natureza do escorpião?

 

MG

14 Jun, 2011

Caniche do PSD?

Vejaaqui o documentário "Nasceu uma Estrela" com a história dos 10 anos do Bloco

 

O caniche(BE) do PSD, como alguns lhe chamam(não eu) avaliou mal o seu papel na sociedade portuguesa. Confundiu voto de protesto, logicamente transitório, com eleitorado fiel ao seu projecto. Achou que ajudando a derrotar o PS, mesmo que tivesse de ajudar a direita a chegar ao poder lhe traria mais votos e mais deputados. Errou por falta de inteligência política. O que aconteceu ao BE foi o que eu previ no longinquo ano de 2009, aquando da publicação do post que aqui transcrevo. Até parece que sou bruxo! Que raiva! 

 

 

A Rã e Touro

Numa tarde, andava um grande Touro passeando ao longo da água, e vendo-o a Rã tão grande, tocada de inveja, começou de comer, e inchar-se com vento, e perguntava às outras rãs se era já tão grande como parecia? Responderam elas: Não!!! Pensa a Rã segunda vez, e põe mais força por inchar; e aborrecida por faltar muito para se igualar ao Touro inchou de novo, mas tão rijamente, que veio a arrebentar com cobiça de ser grande

 

 

 

catrapum

 

moral da história: quem nasce pra pataco nunca chega a meio tostão. (sabedoria popular)

 

Esta estória escrita para o blog,quixote moinho de letras, em tons "hiper-realistas" é pura ficção. A semelhança com acontecimentos ou personagens reais é mera coincidência

 

 ambienteacreano.blogspot.com

 

Naquele dia de Junho, algures nos anos 60 a camioneta da carreira das seis acabara de chegar da tépida Beja. Entrou na serra algarvia a bufar do cansaço do sobe e desce de uma estrada traçada a picareta e mal lambida de alcatrão. Quando ronceira estacou na primeira paragem do concelho de Castro Marim, foi invadida por um grupo de mancebos que no dia seguinte iam às sortes. De freguesia em freguesia iam-na emprenhando de juventude bem disposta. No último grupo, ia Aníbal Cavaco, para ser sujeito à prova de aptidão para soldado da nação.

 

Na sede do concelho,Aníbal e o grupo da sua aldeia dirigiram-se à pensão Mariani, nas margens do sapal, onde iam pernoitar . Tocaram na aldabra da porta e esperaram breves instantes. Na soleira entreaberta, divisaram uma mulher baixa, alourada e montada nuns chinelos de pana, made in Espanha que os olhou com bonomia.

-D. Mariquinhas, disse o Chico Rufia um latagão de quase dois metros: -Tem aí acomodação para esta moçada descansar os ossos.

 Mariquinhas que já o conhecia de outros Entrudos balbuciou: pra ti Chico dá-se sempre um jeito. Mas quantos são os alarves.

- Mais de uma dúzia, disse o Rufia, olhando em redor e calculando a olho.

-Só se não se encomodarem de dormir aos pares'

-Homessa ti Mariquinhas, isto é malta séria.

 

- Mariquinhas conduziu-os por um longo corredor alumiado por telhas de vidro e foi-os enfiando em pequenos quartos, com uma cama larga e um lavatório de ferro. De cada lado da cama, encimada por um quadro da última ceia, estava uma mesinha de madeira pintada. Depois de deixarem os seus pertences dirigiram-se a uma cozinha sala onde Mariquinhas, ajudada pela  filha que optara por ficar solteira, por falta de pretendentes lhes serviu um caldo de repolho , bem condimentado com toucinho de porco serrano.

 

Acabada a refeição o Rufia, aproveitou a saída das mulheres, levantou-se e ciciou:

 

- Agora como é da tradição vamos às putas. Quem ainda os não perdeu tem que ser hoje ou não faz jus ao bom nome do soldado português. Vinte paus é o que leva a D. Manela para esfolar cada bezerro. Alguém está contra?

 

Manela  uma matrona de meia idade, bem nutrida, mas ainda viçosa e prestável para a função de iniciação sexual, supria a menor juventude com muita experiência. E até então nunca tinha havido queixas. A encartada do sexo, tinha casa aberta e autorizada, sujeita a imposto municipal nas faldas do velho castelo que já fora dos castos monges Templários.

 

Naquela noite D. Manela não dava mãos nem pernas a medir. A clientela vinda de todo o concelho compareceu em peso. Mas não podia dar-se ao luxo de perder um dia assim tão farto. Só acontecia em ocasiões festivas. Começou a aviá-los a todos, um de cada vez claro.

- O próximo chamou D. Manela. Levantou-se algo atrapalhado Aníbal Cavaco, enquanto arrastava os pés para dentro do consultório. Esparramada na cama estava D. Manela tal como veio ao mundo. A cor do rosto esfíngico de Aníbal ecorregou-lhe até aos pés e ficou como que pregado ao soalho de  tábuas enceradas. As únicas fêmeas que vira nuas eram as cabras , as vacas e outros animais de pasto.

 

- Então mosse que estás a fazer aí especado. Vieste para biombo de sala? Despacha-te  que há muita gente à espera. Passado o primeiro impacto Aníbal lá se foi despindo sempre em crescendo.

 

Ó mosse dum raiopelos vistos és melhor de coiso que de conversa. Anda cá que eu tiro-te da aflição. Aníbal atirou-se prá frente como potro no cio e descarregou na matrona quase sem a deixar tomar ar. "-Mais devagar rapaz, não vás com tanta sede ao pote."

 

A maltesaria satisfeita de corpo e mente, saiu para ir dormir e retemperar forças para o dia seguinte. Mas Aníbal Cavaco recusou-se a companhá-los.

-Eu ainda fico. Bem  tentaram demove-lo, mas em vão. Ficou, e repetiu, repetiu, repetiu, e mudava o óleo e fazia a rodagem, até ficar teso que nem um carapau. Acabou por adormecer juntamente com D. Manela.

 

-Vamos levantar cambada, está na hora da inspecção, gritava D. Mariquinhas enquanto abanava freneticamente um chocalho de vacas. Chico acordou assarapantado e mais assarapantado ficou quando não viu Anibal que lhe calhara como parceiro de cama.

 

O sargento cumprimentou os jovens com jovialidade e boas maneiras, dizendo: tirem-me essa roupa lesmas de merda. O sargento inspector começou a tomar notas, enquanto um cabo media, pesava, observava. Já a inspecção ia a meio quando no limiar da porta da sala entrou Aníbal Cavaco,trôpego, macilento com os olhos a sair das órbitas, mais zombie que soldado da nação.

 

- Quem é esta aventesma, berrou o capitão espantado, enquanto rodava furiosamente o pingalim.

-Perdão senhor capitão...é que...

-Desembucha, se não ainda te parto este chicote no lombo, campónio armado em chico-esperto.

-é que passei mal a noite, caiu-me mal o rap olho...uma risada bem sonora ecoou por toda a sala, até as persianas tremerem. O capitão não resistiu a tanta hilaridade e a custo balbuciou:

-Despe-te lá, nabo encartado. Pensava que já não havia disto.

 

Os mancebos foram recebendo uma folha que os habilitava como futuros defensores da pátria. Aníbal Cavaco  recebeu a sua folha olhou e leu, em letras vermelhas: INAPTO.

 

Nesse longínquo dia, Aníbal não conseguiu ter a suprema honra de ser soldado português, mas adquiriu uma grande tarimba na arte do f. 

 

MG

 

E para sobremesa:

 

 

 

 

   

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